À Alta Fantasia
O brilhante azul celeste
E rosados dedos da Aurora
Partem aparte o horizonte leste
E acordam o claro dia de agora;
A abóbada que todos nós cobre
E qual leve brisa leva-me embora
Por um céu bem límpido e nobre
Vigiando sobre aqueles abaixo
Um povo bem simples, ou pobre,
Qual nome não lembro ou acho
Ocupados em sua livre feira
Com sua morada logo em baixo
Qual jardins formam a beira
De toda subterrânea cabana
De arranjo vegetal ou granjeira
Em uma cidade nada urbana
Cercada de verde relva selvagem
Qual o macio vento sopra e abana
Em harmonia com a paisagem
Junto oscila o cume da floresta
Onde elfos e fadas em espionagem
Observam o que no prado resta
Como as slimes multicoloridas
Qual toda e qualquer área infesta
E entre as imóveis árvores reunidas
Marcham os velhos Treants restantes
E ainda mais altas que tais floridas
São aquelas tão sábias ambulantes
Entre seus pés os centauros poderosos
São como meras criaturas rastejantes.
Ambos orlados pelo rio e lago vagarosos
E banhados em sua água cristalina
Onde belas sereias e elementais aquosos
Se escondem em desnatural neblina
Mas qual ao ribeiro povo pescador
Seus truques já não mais fascina
Mas ainda assim evoca seu favor
Pois é natural da água descer
À juncos e matos sem plantador
E um estagnado pântano crescer
Onde bruxas e nagas habitam
E delas eles nada querem ver
Enquanto ao longe eles avistam
Os grisalhos picos enevoados
As geleiras sangrantes que visitam
Sejam florestas, campos ou prados
E cavernas de trolls e trogloditas
Que entre grifos e dragões são achados
Mas aos ninhos as mais perigosas visitas
São os pequeninos que vêm saquear
Os anões com ferro, aço e runas malditas
Orgulhosos em o intestino da terra escavar
Entre magma fluinte e pedras preciosas
Redescobrindo antigos segredos sem par
Mas terras inda mais dolorosas
Eu, alto voando, vejo adiante
Pequenas dunas, tão perigosas,
Na sombra da chuva restante
O ondulante caloroso deserto
De camelo e caravana vagante
Em busca do oasis mais perto
Os homens-lagarto lêem o vento
E todo aventureiro menos esperto
Busca enterrado tesouro opulento
Sem verem que os tabletes de lama
São do passado o maior memento
Mas sua atenção algo chama
Como se um buraco abrisse
E de lá ajuda um orc clama
Antes que a minhoca sumisse
Mas os magos de areia só riem
Navegando na arenosa superfície
E sem que mais alguém enviem
Os orcs fogem à sua tribo
Decidindo que não variem
Voltam ao território antigo
Onde elfo ou mero humano
É seu mais comum inimigo
E logo será o tempo no ano
Que o campo se torna dourado
Bom à todo santo e profano
Mesmo que não tenha plantado
Pois à todos vem a oportunidade
E maior risco à todo cereal e gado
Ao orc não falta a maldade
Para com bandidos se unir
E mesmo o guarda da cidade
Por pouco suborno coludir
Mesmo cavaleiros vigilantes
Eles conseguem ainda eludir
Os frágeis humanos tão possantes
Mas o poder ao fazendeiro falha
Pois os sábios em tronos flutuantes
Abandonaram a mundana gentalha
Das altas torres de marfim e pedra
Não vêem aquelas cabanas de palha
Estudar magia apenas é o que os alegra
E não a irrelevante intriga secular
Como quem o limite das planícies regra
Vigiando com seu único globo ocular
E como brinquedos os ciclopes tratam
O mais galante cavaleiro popular
Mas assim como um besouro matam
Deles os feiticeiros fazem esporte
Pois aqueles que ao longe viajam
Sobre terras gélidas trazem reporte
De titânicos gigantes ardentes
Vivendo ali pouco mais ao norte
Onde o global oceano em correntes
Marca como a terra por fim acaba
Dominado por krakens e serpentes
Qual o tesouro de piratas arrasa
A beira do final horizonte
Proibido até à voantes seres de asa
Eu pouso no pico de um monte
E harpias não ligam que cheguei
Devo eu voltar para que os conte
Sobre céu e terra e tudo que eu sei?
À minha esquerda um crepúsculo eterno
Mas atrás o véu da Noite já tecido achei
Perdido alguém escreve em seu caderno
À luz da fogueira de galhos de pinheiro
Temendo a chegada do próximo inverno
E como de nada lhe serve seu dinheiro
E tudo ele perde de novo
Ao surgir um súbito nevoeiro
E assim um novo povo
Junto com a lua sobe
No zigurate lustroso
Um sacerdote se move
De dia desérticos salões
Agora com vida eclode
De vampiros e seus barões
Que os astros ainda adoram
E contam as constelações
De qual eles bênçãos gozam
Com indizíveis sanguíneos rituais
Quais outras raças deploram
E longe de serem todos iguais
Rejeitam os ghouls mumificados
E como para os povos diurnais
Os zumbidos da noite são abominados
Mas na floresta há quem cante
E mesmo terrores são festejados
Nas clareiras e fontes brilhantes
Ocorre o dito ritual nada solene
Pois sátiros e ninfas são amantes
E dançam orgias sem que lhes ordene
Tímbalos e címbalos declaram a grandeza
Das serenas plêiades e poderosa Selene
Mas outros encontram mais arte e beleza
Em batalhas ou cemitérios abandonados
E ao necromante um lorde lich é a realeza
À qual seus immortos servos são levantados
Magros esqueletos sem carne ou músculos
Que são mais fortes que homens treinados
E da horda que se arrasta pelos arbúsculos
Há aqueles que por si só se levantaram
De osso, sangue e outros corpúsculos
Uma mente sua própria formaram
Regais wraiths e todo fantasma
Que os ainda vivos amaldiçoaram
Em templos em vão oram que não renasça
E no campo junta toda pobre gente
Com forquilhas e enxadas cada um pasma
Diante de vis goblins e toda criatura dolente
E o baixo murmúrio em seguros monastérios
É como o zumbido som de todo zumbi doente
Onde nas ruas imps comemoram vitupérios
Sem saber o que os espera na esquina à diante
Nem tocha ou lanterna desbrava os necrotérios
Mas vem a dançante chama de um Piromante
Laranja e vermelha no escuro oscilando
O todo-consuminte fogo vivo andante
E em dessecradas ruínas vem caminhando
Um Clérigo santo de batina albina
Ou um deslumbrante Paladino revelando
O caminho que os guia com luz divina
Para a flecha prata do Arqueiro
E o Guerreiro sua espada de platina
Mas já o malandro Druída armeiro
Com visão animal perfura a escuridão
Enquanto atrás vem de sorrateiro
Um venenoso Assassino e ágil Ladrão
Quais vivendo já em sombras e cantos
Preferem que não saibam onde estão
E vem a Bruxa com seus encantos
E o Bardo já com cura e buffando
Aos inimigos os hex nada santos
Cada um harmoniosamente lutando
E vem na beira da morte o duplo machado
Do frenesiado Barbário tudo cortando
O medo e terror por agora quebrado
Pelas estórias em uma taverna
Ou por religião um bem imortalizado
A conquista sobre a treva eterna
E seus grandiosos feitos recordam
Até antes da pintura em caverna
Inacreditáveis atos físicos exploram
E magias que rasgam os céus
A morte e fim de alguns comemoram
E fazem do bem e do mal réus
Feito por um indivíduo ou nação
Ou abaixo de misteriosos véus
Entre aspiração ou tentação
O amanhã que hoje criam
Dever, Prazer ou Ambição
Define o futuro à qual guiam
As dificuldades que velhos reis
E novos heróis todo dia desafiam
Assim vem o conto de devotos freis
Mesmo quando o fato é só um
E falo a verdade mesmo que vós ameis
A confortável ilusão criada por algum
Pois voando no céu eu afirmo à vós
Que aqui em cima vejo deus nenhum