A liberdade não existe
Tolo, que agora farás com a tua liberdade desejada?
De joelhos, terás que escolher entre a apatia de nada
fazer ou a euforia de uma qualquer decisão ilusória,
sabendo que numa coisa ou outra perdes, tome qual-
quer caminho sempre sofrerás, ou olhas bobo para
a vida a passar à tua frente, ou ignoras de bom grado
tudo e segues em linha reta. “Às vezes sigo em linha reta…”
Cerro os ouvidos a tudo, a tudo em que amor a mim
grita, a nada rendo-me, com as mãos vazias, servo
do meu próprio ceticismo. Consolo-me, consolo-me,
soluçando em excesso com a minha soberba tacanha,
celebro o tempo vivido, as jardas percorridas, o abismo
dos dias saltado, o impossível que fora “mais um dia”,
que ficou no passado — essa é a minha única graça, e
você, Mestre, faz troça de mim por eu ainda apostar
todas as minhas esperanças no futuro, quando com sua
voz como uma trovoada diz que “os dias são todos iguais.”
Minha esperança então torna-se esta sentença cuspida,
este pedaço de terra ao qual agarro com tamanha força
a ponto de me partir: “Hei de obter maestria na arte de viver
um dia integralmente.” Aí deixarei de viver como verme!
Mas quedo com as mãos vazias da liberdade inexistente,
da juventude acostumada a ser covarde. Mas (assobio):
caio, cada vez, para cada vez menos cair — “cair melhor.”