Manifesto das Letras
Não seria novidade alguma buscar na expressão escrita algum refugio ou até mesmo fuga das conjecturas e vivências que tentamos imortalizar. A historia está cheia de bons exemplos que podem ratificar minha assertiva. Acrescente-se ainda a este fato como as palavras são reprodutoras fiéis dos mais tórridos sentimentos e das mais dacronianas mazelas.
Ah...letras e palavras...Não sei o que faria se não as tivesse...
Pois bem! Faço-me burlesco para me expressar como queria neste texto.
Sempre que me principio a escrever (o que não é fato corriqueiro) sinto-me às vezes indigno para expressar na forma escrita os pequenos enleios vindouros da vida. Não somente a estes vindouros, mas cabe aqui nossas pequenas veleidades e ufanismos pueris. Não é fácil condicionar a mente à escrita, nem tampouco a escrita à mente, isto porque o pensamento é supremo. Tão supremo a ponto de relegar à matriz do esquecimento postulados inteiros em questão de segundos.
Não, não e não! Não é este o rumo que quero dar a estas linhas. Elas não merecem serem desperdiçadas com frivolidades acerca do meu ego...
Doer-me-ia muito tolher meus devaneios só por um capricho estilístico. Entretanto, doer-me-ia mais ainda vê-las em mau uso, relegadas à mansarda vil em sem vida dos quem não sabem usufruí-las.
Em absoluto corroboro para este destino ao qual estão sujeitas nossas letras. Ademais, faço coro às suas reivindicações e lamentos ante a este mal que as aflige.
Tanto estes “pobremas”, “incrusive” outros, oprimem e massacram nossa língua e, por conseguinte, nossas letras...
Não é admissível que um povo que se proponha a “aculturar-se” de(re)caia sobre questões tão inatas quanto o próprio idioma.
Chego a corar de vergonha quando vejo universitários – aqueles que deveriam ser exemplos pela oportunidade vislumbrada no meio acadêmico – serem protagonistas de expressões pífias e ignotas.
Sufoca-me ver crianças serem alfabetizadas no automatismo servil e feudal das escolas, sem qualquer interpolação educacional entre a criança, o professor e a comunidade. Esta tríade está morrendo. Cabe a nós restaurá-la. Cabe a nós este papel fomentador, instigativo, voltado ao bem comum, à solidariedade expressa não apenas em letras e palavras, mas em ações concretas.
Vivemos uma realidade dualista onde a segregação social entre pobres e ricos está cada vez mais abissal. Este paradoxo pobres versus ricos refuta-se ao nosso dia-a-dia, solapando não só a mim, creio eu, mas a todos que se dispõe a enxergá-lo.
A pobreza social não caminha junto com a pobreza cultural. Àqueles demagogos de plantão que defendem que a pobreza alimenta a ignorância, que por sua vez gera mais pobreza, encerrando-se assim, num círculo vicioso, esta é nossa resposta: NÃO.
NÃO é a condição social que determina o galarim intelectual e cultural das pessoas. Restringe, é verdade, o acesso a condições melhores, mas de forma alguma tolhe nosso livre-arbítrio.
“Valorize seus limites, e por certo não se livrará deles” (anônimo)
Ao nosso livre-arbítrio cabe o rumo que pretendemos para nossas vidas. Seria um estoicismo moral crer que nossa existência somente vislumbra nossas necessidades materiais. Somos um templo, não daqueles de dimensões arabescas, mas pela bagagem espiritual que trazemos conosco.
Saibamos, portanto, desde já valorar o que, de fato, deve-se dar ao valor devido. Somos do tamanho de nossos sonhos. Isto é uma verdade universal. O pensamento é supremo. Já o disse uma vez e ratifico esta assertiva novamente. Não me resta muito mais a dizer, uma vez que corro o risco de enlear-me enfadonho. Não é este meu objetivo.
Agradeço às minhas amigas letras pela oportunidade de oferecê-las este manifesto. Sem elas, a humanidade não seria a mesma.
Ad majora natus