Desabafo

Essa forma desmedida de sempre mais querer ter, essa arrogância e fome por lucros e divisas, como se o eu fosse igual ao ter, essa forma estúpida de ver a vida, como se fosse um jogo, um desafio, esse aparentar ser sendo inócuo ser, esse viver sem ver o mundo ao redor, sem contemplar a natureza, nem a humanidade e suas imperfeitas belezas, esse viver sonhos alheios que dizem ser o melhor para mim, quando da verdade quero uma vida simples, sem muitos regramentos, sem muitos luxos e sem perder minha curta vida em efêmeros lucros.

Como diz a chutada frase “és responsável por aquilo que cativas”, não quero cativar um bem, nem o dinheiro que fugazmente se esvai, quero cativar os sentimentos e mudanças, quero cativar a sabedoria, a paciência, o amor e a compaixão, filhos eternos dos seres mais esclarecidos, e que hoje vagam ermos, esquecidos.

Não almejo muito ter, mas sim muito ser, ser hoje melhor do que fui ontem, e amanhã ser melhor do que fui hoje, pois somos pedras em perpetuo estado de lapidação, pedra esta que almeja refletir sua beleza a fronte de todos. Prefiro ser mais do que ter mais, por que os ensinamentos que o ser aprende não tem preço, são eternos, enquanto o ter é adquirível com pagamento, é destrutível e tem um fim certo.

Não quero que me vejam pelo o que tenho, por que o ter é trivial, é instável, quero que me vejam pelo o que sou, pelo o que fiz e faço, quero que me vejam como ser imperfeito e falho, como pequeno galho que sonha em ser árvore, como pássaro que sonha com seu primeiro vôo.

JP 19/05/08 10:10