À noite
À noite
O silencio é interrompido pelo barulho do coração. O compasso acelerado, guiado pela dissonância das lembranças, provoca ópio. A realidade inexisti, sou transportado ao mundo das idéias, no qual, inutilmente, tentarei encontrar a realidade que me convém, pois, a verdade absoluta.
Viagem sem roteiro, aleatoriamente, sou coberto por uma procela sentimental. Dois guias lutam pelo controle da idiossincrasia. Esta porfia traz-me de volta à humanidade, que me martiriza, e lembra-me da infindável incerteza: razão ou emoção.
À noite, portal que me conduz ao mundo enigmático, começa a batalha eterna do homem: a batalha da existência; a busca da verdade; dos porquês; das perguntas sem respostas.
A emoção apresenta as justificativas que serão apreciadas pela razão, e vice versa. A depuração perdura durante a noite, ou melhor, a cada noite. O subconsciente dará o veredicto, comumente, favorável à emoção. O momento do paciente é determinante para o processo de predileção.
A razão utiliza-se da ferramenta mais poderosa: o cérebro. Argumenta eficaz e plausivelmente, pois, persuade o paciente de que ela é a melhor vertente a ser seguida. A ilusão, o devaneio, a paixão, o medo são sucumbidos: pela lógica, pelo mensurado, pelo conhecido. Esta perspectiva oculta a angústia intrínseca do padecente.
A utópica calmaria é suspensa pelo discurso inaudível e inefável do coração. O Irapuru, ao iniciar sua melodia, a racionalidade da floresta se cala. A assonância atinge o subconsciente levando-o à anomia.
A noite se vai, e o paciente retorna ao seu tratamento. Diariamente, é tomado por uma cápsula chamada: sociedade. O tratamento é lento e contínuo.
O mundo revela, ao amanhecer, o diagnóstico. Muitos pacientes se revelam “marionetes” sentimentais; outros, capitalistas.
Enfim, o Ministério do Equilíbrio adverte: A única verdade absoluta é aquela que te convém, porém, não necessariamente o quê te convém hoje, convir-te-á amanhã.