O limite do nada

__ Hoje estava pensando se procuro ou não um terapeuta. Acho a palavra psicólogo muito pesada, quizás psiquiatra. A verdade, ou o começo dela, é que não saberia o que dizer para nenhum dos três. Que eu tenho medo do que pode acontecer comigo durante a noite? Que meu pai diz que minha mãe é louca e minha mãe diz o mesmo dele? Que tenho medo da loucura ser hereditária? Não sei. Não sei se devo. E talvez esteja aí meu principal medo, o que me faz evitar a dor e o que me coloca no centro de todas as minhas psicoses. É por isso que deixo tudo pra amanhã. É por isso que fujo das pessoas que me aborrecem, pois a hipótese da briga já me deixa bastante ansiosa. Não devo fazer aquilo que me deixaria com um frio na barriga insuportável. Mas ao mesmo tempo não acho que isso esteja errado. Já cansei do mundo hipócrita, que resmunga um tempo e depois volta à paz cotidiana. Por isso não sei o que fazer. Não sei se devo me impor datas, afazeres, livros e romances. Não sei se procuro saber quem foi o louco da história.

A verdade, ou o começo dela, é que me encontro em algum limite. Ele pode ter alguma chance de significar alguma mudança profunda ou ser abafado por uma surpresa boa. A convicção seria uma benção no meu caso. Sou uma pessoa inconstante e medrosa, tenho que admitir que acho isso muito ruim. Bom, acho que isso é o que eu consigo por agora. O que o senhor acha?

___ Acho que você ainda está em um grau de loucura saudável. Mas aja rápido contra as dúvidas. Procure primeiro ser convicta sa sua personalidade e resolva as coisas pendentes, mesmo que estejam fora do seu caráter.

__ Obrigada, doutor. Vou para casa e o primeiro passo vai ser transcrever a nossa conversa para que eu sempre possa me lembrar de que devo algo a mim mesma.