O SENSO DE RIDÍCULO
Certa feita, na faculdade de Direito, dois colegas "resolviam" os problemas brasileiros em suas conversas. Num certo ponto um deles disse:
- Entramos para um grupo que pretende mudar a Constituição.
Eu, também neófito nas letras jurídicas, retruquei:
- Mas por que vocês querem mudar a Constituição? Qual parte dela?
Então o outro respondeu:
- Hei, aí você está pegando pesado! Não sabemos o que mudar, mas queremos que ela mude!
Como estes ingênuos estudantes de Direito, há muita gente que pensa desta maneira; quer que as leis mudem, mas não sabem quais, nem o porquê, nem como; apenas querem a mudança.
Invariavelmente, as pessoas que querem mudanças na lei não a conhecem. Já ouvi pessoas falando mal da Constituição e do Código Penal, mas estas nunca leram um só artigo destes dois diplomas legais. Há ainda os que leram e não entenderam.
Essas pessoas acreditam que pela via legislativa tudo se resolve.
Nos anos de 1990, comovidos por uma série de crimes que o país vivia, o Congresso Nacional aprova e o presidente da república sanciona a Lei 8.072 de 1990, a lei dos crimes hediondos. Endurecendo as penas infligidas àqueles que cometessem os crimes descritos na forma desta lei.
Dezoito anos se passaram, pergunto ao leitor: A criminalidade aumentou ou diminui nestes últimos anos? O endurecimento das penas coibiu a ação dos delinqüentes?
E agora, comovidos novamente, qual a solução legislativa o clamor popular irá cobrar de seus representantes? Alguma revista ou jornal sensacionalista pedirá a pena de morte, outros prisão perpétua ou a lei dos crimes ultra-hediondos.
É simplesmente espantosa a facilidade com que a opinião pública é conduzida pelos meios de comunicação. Não há debate sério, há o espetáculo. Não há reflexão filosófica, há o sentimentalismo. Não há consciência democrática de Estado de Direito, mas todos parecem querer instalar um tribunal de exceção e resolver sumariamente assuntos que pedem muita cautela.
A minha decepção com o povo brasileiro é muito grande, um povo que na sua maioria (há exceções) não tem nem um pouco de ética, um povo que quer levar vantagem em tudo e além disso é muito, muito ignorante.
Mais triste é ver que uma tragédia facilmente se transforma em espetáculo, com direito a missa com o padre Marcelo Rossi, Xuxa e outras "estrelas".
Perdemos o senso de ridículo.