...Frio.
de volta à esse terreno insano e vadio
aridez impessoal e poças d'água recorrentes nos meus tênis
encontros ao acaso e por acaso faz frio
em plena rua eu cuspo todo meu descaso sobre tudo isso que não quero mais
e mesmo sabendo que não posso voltar atrás ainda giro nos meus pés e olho
mas mesmo tudo parecendo estar tão igual, algo ainda soa um tanto diferente
desigual, e eu queria que isso fosse apenas uma trip surreal, mas tá tão frio aqui
que dessa vez não consigo me enganar e me sentir inteiro, inteiramente no contexto, completamente nos eixos, pois faltam pequenas grandes peças nessa engrenagem complexa e ao mesmo tempo simples, então tudo meio que desanda e tropeça e quase caio nesse abismo ridículo e raso e me debato e levanto dum salto olhando pra ver se alguém viu eu vendo o que ia acontecer de fato e indo só pra ver se era mesmo, e era, era você me vendo e rindo e rindo e perguntando se eu precisava de algo mesmo sabendo que eu diria claro, era exatamente isso que eu tava procurando, não, não a queda nem a poça nem um cigarro ou um trago de vinho nem erva ou pó ou cola ou mulheres fáceis ou dinheiro, era tudo uma questão de você, minha questão, uma grande questão sem resposta só suspense só frisson de pele ao som de você-sabe-o-quê porquê eu não preciso de muito não preciso de outros poucos momentos fúteis nada úteis nada nada cara, preciso de uma pele branca como a aurora mais linda e com estrelas sim estrelas, cruzeiro do sul e tudo, todas elas cheias de um certo tato exato que me levam aos seus olhos de supernova superquente delirantemente quente sua boca mais macia que veludo e doce feito mel cara, mas por enquanto é tudo frio, tudo muito longe daquele céu.