O sentido de alguma dor
O sentido de alguma dor
Peguei um cigarro e fui de encontro a janela. A luz meio opaca, se divertia com as cortinas vermelhas criando-se estranhas e curiosas formas. O vento também ajudou um pouco.
Olhei para o céu, que no auge de sua juventude, marcava sete horas da noite. Comecei a lembrar coisas
da minha vida; coisas boas, coisas ruins, amigos de infancia. Coisas que passaram e ainda hão de passar; coisas que não vieram ainda, mas hão de vir, como a morte.
Eu, dentro dos meus bem vividos noventa anos, lembrei em especial de uma pessoa que se passou na minha vida e que por ela deixou
indicios. O vento agora se fez forte e rígido; batia nas cortinas desfazendo o balé intimo e sublime que se formara com aquela luz, que
em suma, também servia para algo. Senti uma lágrima correr pelo meu
rosto; uma lágrima peralta por si, dolorosa como a lembrança que a
provocara. Sorrisos, erros, promessas de amor eterno, traições e outras coisas que só os adolescentes podem fazer me vieram como uma doce lembrança; agora é um privilegio eu me lembrar de algo, ainda mais de tão moço.
Ainda observando o vento que parecia surrar os galhos de uma velha goiabeira que se encontra ao pé de casa, as lembranças iam tomando formas mais nítidas, cores e por algum momento eu senti o amargo sabor de uma quarta feira. Senti o doce-salgar da lágrima que veio me beijar. Recusei o beijo com a lingua; se o aceitasse estaria traíndo meus sentimentos.
Em suma, tive uma lembrança triste do que uma pessoa havia feito comigo tempo atrás. Não fiquei por si triste; tinha que me alegrar também! Me alegrei, e com isso uma pontinha de tristeza também me visitou.
Hoje, ao pé dos céus, tenho que agradecer tudo a essa pessoa. Com a facada que levei me tornei um homem de bem. Percebi que amigos são amigos, mãe é mãe, irmãos são irmãos, e por ai vai. Hoje sou um grande empresário, dono daquele grande site de sistemas de busca.
A tristeza se deve pelo fato de ela falecer tão cedo; jovial e ludibriada. Minha esposa chegou, Drª Aline Silva, avisando me que o meu grande amigo e sargento do exército brasileiro, Sgt Carlos Eduardo, estava ao pé de casa querendo papear. Dei por mim, terminei aquele balé de amantes e nem dei bola pro vento que estava revoltado.
Beijei meu filho na testa e percebi que outros amigos vieram também me visitar. O empresário Diego, o Dr. Tarcisio Russi, o sociologo Ivo Martins, O crítico musical Luciano Leal, O "gatão-da-terceira-idade"
Felippe Larcerda, O ativista Leonardo Freitas, O advogado Edgar, O Senador Felipe "C", e alguns outros (Só não os cito aqui por serem
muitos). Olhei todos nos olhos e pensei comigo: "Um dia eu chorei por uma traição, mas agora vejo, os amigos que choraram comigo naquele momento, ficaram comigo por toda vida e agora estão aqui, vivendo a vida comigo.
O vento acalmou-se.