A fala
No meio da noite descobrir uma fala, que toca, que chora, que mora...
No escuro do quarto percebi que a fala era pensamento, vento... não exitia. Não poderia, era ilusão de um momento.
Voltei a caminhar pela casa e de novo a fala, que não era fala, que grita, implora, lamenta e chora. Senti algo profundo me tocar, estava sozinha, cansada, calada e vi que não tinha ninguém naquele lugar.
Me aconcheguei num canto, ouvi gemidos, sussurros, palavras, meu pranto. Senti um frio, uma angústia, uma vontade de vomitar. Estava silêncio e nada se movia naquele lugar.
Andei para o quarto e retornei a meditar. Era noite, estava tarde e meu semblante tinha uma tristeza aguda no olhar, eu não parava de chorar e a fala que não me deixava descansar, estava lá, no mesmo lugar.
Recordações invadiam minha mente, meu corpo magro balançava como uma rede, meu coração palpitava e minhas pernas tremiam querendo se deslocar, era um medo que dominava as minhas forças e uma vontade louca de gritar, de clamar e chamar por alguém...
Mas quem?
Eu estava sozinha, acuada pela voz que me detinha como uma prisioneira de um espaço particular.
Como um relâmpago ouvi algo se manifestar, a chuva fina se transformava em enxurrada e tudo parava no ar. Não era eu que existia era o só lugar. Percebi então que não estava isolada, a chuva vinha me acompanhar, estava amanhecendo o dia e eu começava a acordar. De repente percebi que tudo tinha virado noite e eu continuava a me perder do real, do natural, do contato, do imediato, do concreto.
Eu não entendia nada...
Foi quando vi tudo parar ao meu redor, um beijo frio e sereno me fez tremer, gemer, sorrir, cantar, chorar, lacrimejar. Entrei em desespero... fiquei em transe, impotente... esfriei e me acalmei quando percebi que o beijo vinha de minha mãe me despertando de um sono doente.
Eu estava apenas refletindo o que tinha acontecido em outra cena. Era apenas um poema que se deslocou do personagem, era uma mensagem,eu só não conseguir entender.