Cura te ipsum*
“ Quem sabe direito o que uma pessoa é
antes sendo: julgamento é sempre defeituoso
porque o que a gente julga é o passado”.
Guimarães Rosa
Cresci num ambiente de incentivo à tolerância e entendimento das motivações alheias por influência de meu pai, maçom por quase cinqüenta anos. Em casa refletia-se e argumentava-se muito, mas julgava-se pouco. Adulta, casei com um livre pensador.
Julgar é tarefa sobrehumana: há que despojar-se dos conceitos pessoais para colocar-se no lugar do outro, considerando todas as experiências que o levaram a ser e agir de determinada maneira. Mais fácil é a aceitação ativa.
Desenvolver a tolerância e a empatia é um modo de não perder a esperança no outro e em nós mesmos. Evito, embora nem sempre com sucesso, emitir juízo. Tampouco aceito tipificação de quem não sabe de mim.
Se só se consegue mudar a si mesmo, é aí que devem se concentrar os esforços de correção de rota. É tarefa para uma vida. O sertão - escreveu G.Rosa - é dentro da gente.
* provérbio bíblico endereçado àqueles que, esquecidos das próprias falhas, se empenham em apontar as alheias.
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