Medo...

Tenho medo de ficar cinza..

Tenho medo de um dia olhar no espelho e ver essas marcas, que tanta gente chama de rugas

E elas para mim não remeterem a nada, nenhuma vitória, nenhum ato heróico, nada de grande, nem glorioso.

Tenho medo de perder minhas cores,

De que meu olhar se torne gélido, que meu coração em petrifique, que eu me torne mais um na massa.

Tenho medo de ser corajoso, mas o medo de acabar um covarde é mais forte, é mais duro. É mais do que eu.

Fico ansioso a pensar em tomar decisões, de fingir não ligar, de tentar me abandonar.

Tenho medo de tomar decisões precipitadas, de falar verdades descaradas, de cair e quebrar a cara.

Meu medo não é de ser neutro como o branco, nem radical como o preto, mas estar naquela faixa, que sempre fui contra, de ser cinza, aceitável, banal, politiqueiro, o cinza não representa nada, nem ataque nem defesa, é sujo pelo preto e não é claro como o branco.

Sempre admirei quem fosse vermelho, amarelo ou preto, sempre quis poder ser branco ou até verde, mas jamais tive coragem de optar por essas cores, e fico sempre me vendo, no espelho, imaginando que estou me tornando cada vez mais cinza, cru, imoral. Aceitável.

Não quero ser apenas mais um, tenho medo do comum, do ordinário, queria tanto ser lembrado por momentos de honra, de coragem extrema, de glória, mesmo que terrena.

Tenho medo e meus freios me impedem de delirar, de realmente vestir a camisa e ir pra frente, e que pela primeira vez aceite, ser diferente. Sei que esse medo é meu, eu sempre o tive, talvez então meu medo não seja agir como quero, mas de perder algo que sempre tive, algo que sempre fui dono, que talvez não controlei nem me dei conta, mas que agora já é parte de mim.

Pensando assim, pode ser que na verdade eu não tenha medo de cores ou bandeiras, não tenha medo de ser corajoso ou um covarde, mas tenho medo de perder algo que faz parte de mim, medo de perder meu medo.