A dor da perda

Espero que passe... Mas preciso que seja logo... Pois minh’alma dilacera o meu corpo e o meu coração corroe a minha vida que não quer mais viver...

Passo o dia a maquinar a minha morte... Temo-a... É verdade... Mas a dor de continuar viva é mais corrosiva que a incerteza do que poderei encontrar no vazio de um sepulcro...

Muitos poderão me acusar de covardia... Sou mesmo covarde... Pois a sensação de viver longe do meu amor me impede de esperar... Esperar que dias melhores virão...

O meu impulso vital não permite esperar o amanhã... As horas insistem em devagar sobre mim...

E a maturidade prevista pelos anos que carrego não é mais forte que a certeza de que nunca mais a terei em meus braços ou da não concretização das vezes sonhadas grandiloquentes frases profetizadas "Felizes para Sempre”... Isso não existe mais...

Ainda não me sinto capaz de substituir o não resistirei... Pois não acredito que vai passar... Quero que passe... Mas não quero viver para esperar...

O acordar é um castigo constante... A luz do dia insiste em me mostrar a continuidade da vida... Vida essa que não tem mais sentido... A paisagem agora é algo distante... A lua que inspirava o nosso amor não me excita mais... Olho-a e a sinto vazia...

A ausência é presente em todas as partes do meu corpo... E as farpas do arame penetraram meu coração que não pulsa mais para viver... Exerce apenas a função fisiológica... Apenas uma programação pré-determinada...

O dia já não é atravessado por mim... Já não faço mais nada... Os livros ficarão empoeirados e os discos permanecerão calados... As plantas certamente morrerão... O vento não mais soprará... As janelas fincadas não permitirão a regeneração da minh'alma que mesmo trancada anseia que tudo isso passe...

Kika Carvalhal
Enviado por Kika Carvalhal em 21/04/2008
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