A dor da perda
Espero que passe... Mas preciso que seja logo... Pois minh’alma dilacera o meu corpo e o meu coração corroe a minha vida que não quer mais viver...
Passo o dia a maquinar a minha morte... Temo-a... É verdade... Mas a dor de continuar viva é mais corrosiva que a incerteza do que poderei encontrar no vazio de um sepulcro...
Muitos poderão me acusar de covardia... Sou mesmo covarde... Pois a sensação de viver longe do meu amor me impede de esperar... Esperar que dias melhores virão...
O meu impulso vital não permite esperar o amanhã... As horas insistem em devagar sobre mim...
E a maturidade prevista pelos anos que carrego não é mais forte que a certeza de que nunca mais a terei em meus braços ou da não concretização das vezes sonhadas grandiloquentes frases profetizadas "Felizes para Sempre”... Isso não existe mais...
Ainda não me sinto capaz de substituir o não resistirei... Pois não acredito que vai passar... Quero que passe... Mas não quero viver para esperar...
O acordar é um castigo constante... A luz do dia insiste em me mostrar a continuidade da vida... Vida essa que não tem mais sentido... A paisagem agora é algo distante... A lua que inspirava o nosso amor não me excita mais... Olho-a e a sinto vazia...
A ausência é presente em todas as partes do meu corpo... E as farpas do arame penetraram meu coração que não pulsa mais para viver... Exerce apenas a função fisiológica... Apenas uma programação pré-determinada...
O dia já não é atravessado por mim... Já não faço mais nada... Os livros ficarão empoeirados e os discos permanecerão calados... As plantas certamente morrerão... O vento não mais soprará... As janelas fincadas não permitirão a regeneração da minh'alma que mesmo trancada anseia que tudo isso passe...