Liberdade

O cortejo fúnebre segue a passos lentos. O cântico lúgubre entoado exprime a fragilidade daquelas almas. As mulheres, lagrimosas, impecavelmente trajadas de preto, com seus grandes óculos escuros a esconder o rímel borrado, puxam o coro, transpassado por murmúrios e gemidos de alguém mais exaltado. Os homens, austeros, em marcha militar, revezam às alças do caixão, corpos eretos, queixos levantados, conduzem o cortejo ao seu auge, ao local derradeiro onde, por tradição cultural, a vida realmente se encerra. Paira no ar o odor nauseante de crisântemos e velas queimadas. No caixão, agora já lacrado, o homenageado repousa, mãos cruzadas sobre o peito, terno engomado, algodão no nariz, olhos cerrados e a serenidade de quem não mais compartilha com a hipocrisia daqueles que o velaram.