Ano novo, um novo princípio?
Imaginem que estamos todos, cada um imaginando por si, num grupo de 20 pessoas. Nós só conseguimos manejar pequenas ferramentas de pedra, nos alimentamos de caça e coleta, o que sempre dá o gostinho da vida por um triz, caçar ou coletar até acabar, depois a coisa fica preta e ainda imagine que vivemos com peles de animais envoltas em nossos corpos.
Vivemos assim dia a dia todos os dias de nossas míseras vidas. Ficamos felizes quando conseguimos uma presa, ficamos felizes quando comemos. Dormimos nosso sono reparador, um pouco conturbado pelas possíveis presas querendo nos caçar durante a noite.
Eis que o grupo, depois de muito tempo e através do contato com outros grupos, rivais ou não, consegue aprender a plantar, cultivar, adestrar animais. A vida se torna melhor. Sem a preocupação da caça para sobreviver a vida fica bem melhor. Mas com a vida sedentária o povo começa a crescer, não há mais as baixas dos que foram caçar e não voltaram. Aquelas crianças que não agüentavam o ritmo nômade agora conseguem superar a infância etc.
Então que o plantio vai perdendo qualidade e produtividade, então o povo tem que se mover para outro canto onde a terra esteja boa. E assim continua até que alguém prevê que existe uma certa época em que as flores e plantas crescem mais, existe aquela em que todas murcham e caem. Através de elucubrações chegam a conclusão que existe um período certo pra plantar e colher, semear e esperar.
O período passa a ser contato e estudado. Cria-se a definição do ano propriamente dita. Um ano, um terrestre ao redor do Sol. Especificamente estudado para poder dar sobrevivência aos antigos humanos pobres em tecnologias.
O ano foi oficializado para servir como instrumento de sobrevivência e com isso garantir que nós estivéssemos aqui agora, eu escrevendo esse texto e todos os seres viventes estivessem em seus estados presentes, sejam bons ou ruins não interessa, pois são meros acasos da natureza.
O ano foi to fundamental na vida das pessoas de antigamente que perdura até hoje, e a contagem incessante de anos não para nunca. Como se quiséssemos atingir um ano 3000 a todo custo. Cada ano é celebrado em sua transição para outro. Esse eterno círculo já não mais tem função especifica na vida de ninguém. É meramente um costume social.
E esse costume, como todos os outros, foi devidamente instrumentalizado em prol de nossa adorável e rica economia, que, em tempos atuais, presa tudo em seus cálculos e metas, menos o ser humano. O ano é um ciclo eterno que não quer dar em nada, não visa nenhum objetivo a não ser ele mesmo.
O ano é per-em-si. Ele é para ele. A cada ciclo temos todas as datas programas devidamente para serem produtivas, mas não mais para a sobrevivência do homem, mas sim pela sobrevivência da Economia.
Todos os desastres que vemos são acompanhados de números, estatísticas, quantidade do prejuízo. Nunca vemos uma notícia de grande desastre sem seus milhões de perda. As taxas monetárias são amplamente divulgadas, e ai daquele que não sabe a cotação do dólar do dia.
O ano foi transformado em uma eterna festa, onde os produtores, distribuidores, vendedores e consumidores esperam ansiosamente cada época para viver a mesma coisa todo ano.
Lembra-me de um mito bem antigo que remota à Grécia. O mito da caverna. De um rapaz chamado Platão que em sua República nos brinda com essas páginas.
Enquanto todos ficam acorrentados vendo as sombras serem projetadas o eterno ciclo das coisas vai-se repetindo e as pessoas nunca percebem que são tolhidas e amarradas a essa ilusão.
Esse eterno ciclo, que provavelmente se renovará até o dia da minha morte, é-me muito entristecedor. Ele põe as pessoas em estado de zumbis. Onde os programas dizem o que fazer a cada dia do ano. E quando chega o último dia do ano, onde há a retrospectiva, mostra-se o resumo do ano. Peguemos todos os resumos, veremos que são iguais, semelhante aos livros do Sidney Sheldon onde apenas mudam-se algumas coisas, mas a essência, a estrutura, o ciclo, continua o mesmo.
Estamos como em um gigante círculo, onde a cada volta mudam-se pequenos detalhes na paisagem, e vemos, a cada volta, como se fossem paisagens totalmente difenretes.