Faces

No seu chão, encontre meus restos. Bitucas e sonhos, garrafas pela metade e planos, roupas e danos.

Lá eu fiquei porque me esqueci. Lá eu estou porque não sei qual direção vai me erguer. Qual dos seus ventos irá me assoprar?

Então, encontre minha criança, que pula soltando risos entorpercentes, que grita gargalhadas. A minha criança que te enxerga tão fundo que nesse azul ela se perde, se afoga. Ela transcende o teu vermelho.

Encontre lá também, minha mulher, que me traiu com seus instintos, do mais fulgaz ao aflito, que ecoou o mais belo gemido. Que me traiu com seus amores, desamores. Que perdeu o controle que tanto guarda no guardaroupas, em meio às tuas veias que pulsavam ao ritmo daquele gemido, vivo.

Encontre minha mãe, que diz para tomar cuidado para não se resfriar no frio, porque o frio é frio e congela. Que manda você se alimentar, de almas e de algas. Que segura a sua mão quando atravessa a rua, que vela teu sono de veludo. Que ensina que mentir é feio e que fdá cáries.

E encontre, por fim, a menina, que é minha mãe, minha mulher, minha criança. Perdida em meio às folhas de Outono, mesmo sendo Primavera. Encontre a menina, que de tantas voltas fica tonta e translúcida. Nua e livre. Presa e leve. Encontre-a, a mais contraditória contradição que não te contradiz. Em forma feminina e delicadamente andrógena. Querendo apenas ser o que for.

E então...assopre!

Doce Deleite
Enviado por Doce Deleite em 08/04/2008
Código do texto: T936039