Metafísica dos Sentidos
O contato com o mundo: Vejo e isso me basta. Vejo e penso e isso me mata. Porque se "pensar é estar doente dos olhos", eu não quero ficar cego tão cedo. Mesmo o cego, vê mais com os sentidos como nenhum outro homem sensível o pode, e mais ainda que qualquer outra mulher- gênero imponderavelmente mais delicado e que por conseqüência o que mais sabe do mundo. O cego que pensa é que é cego.
Ao ver, vejo e fecho os olhos. Refletindo sobre o sentimento e com o sentimento. Pensando? Jamais. O pensamento não acompanha a ilogicidade do sentimento. Nem que fossem os mais potentes computadores já fabricados e que ainda estão por ser construídos eles não seriam nem são nem serão capazes de alcançar o sentimento-mais rápido que a luz da esclarecida razão.
Então porque fico de olhos fechados? O que se passa em minha cabeça? Não se passa. Passa-se em todo o meu corpo as caóticas sensações indo e vindo, batendo uma na outra, dialogando incessantemente. Esta conversa é a Metafísica dos Sentidos. O não-físico mais real, o não-pensamento da sensação.
E o pensamento mesmo, aquele de Sócrates, chega ao dedo do pé? Não. É restrito. Chega a lugares bem indicados, com estradas, placas de trânsito, limite de velocidade, tráfego...
Já os sentidos vão aonde é vazio-quase que a totalidade do mundo, a totalidade de mim. Assim, se estou de olhos fechados não veja como escapismo, é exatamente o contrário, é a tentativa de encontro com o que está fora de mim. É eu tentando ser o mundo.
Sinto primeiro. Logo após, fecho os olhos abrindo todos os poros da minha pele. Depois descanso tranqüilo deitado na relva. Sei do mundo e sou feliz.