MUDANÇAS II
Caixas vazias num canto da sala. Ainda restam algumas para examinar. Gostaria que as caixas de doação fossem em maior quantidade. O que representam os guardados? As emoções que deles emanaram podem ser armazenadas num lugar especial dentro de mim. Ou simplesmente deixar que o tempo se encarregue de dar-lhes um destino? Aqueles que as despertaram já não se encontram mais aqui. Por que guardá-los? Por que esta dificuldade de deixá-los ir? Libertá-los do caráter afetivo é atribuir-lhes uma função prática e útil. Começarão um novo ciclo, estabelecerão novos vínculos, afetivos ou não. Se até as pessoas se libertam umas das outras, no campo afetivo e passam a ter um papel diferente, muitas vezes só no âmbito das lembranças, quiçá nem isso. Às vezes somos até descartáveis. Muitos guardados de agora, no futuro, passarão a uma nova dimensão. Aquela bermuda, a calça e aquela camiseta descartadas serão roupas de festa e de missa, lá na cidadezinha do interior da Bahia, para onde irão. Fiquei tão motivada com esta afirmativa da moça a quem eu estava doando, que separei para ela outras coisas, que estavam sendo destinadas à família. As coisas têm valor relativo, dependendo a quem e para onde se destinam.
Eu disse no outro texto: “Em mudanças, há o que levar e o que se deixar”. Notei que há muito o que deixar para trás. Tornar o jugo mais leve, mais suave e simples.
Pessoas ficaram... Foram elas que ficaram e eu continuei, ou elas continuaram e eu fiquei? Caminhos da vida. Quem tem a resposta?
02/04/2008