Eternidade e Amor
"Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata." Carlos Drummond de Andrade
Como bem define o grande poeta Drummond, eterno é tudo o que se petrifica e não se deixa resgatar. Um beijo pode ser eterno. Um ferida aberta pode ser eterna. Um momento não é um momento como pensamos que é. O tempo se resgata, se rasga, se vende. Tempo e espaço são meros signos relativos do nosso fraco psiquismo, nada realmente é o que parece. Jamais nos esquecemos de um abraço, de um beijo, de um gesto ou de um momento marcante. Essa sensação passageira se petrifica na nossa mente, e nós nos tornamos reféns desse sentimento.
Que é o amor senão a força maior que rege o universo, dá coesão, lógica, e um fim sensato para a existência? O amor está ao nosso alcance, podemos provar de seu gosto, podemos dá-lo aos outros, podemos recebê-lo dos outros. Deus é amor, Deus é eterno. Deus não está sujeito à própria criação, ou aos efeitos desta, mas pelo contrário, Ele está dentro de tudo e fora de tudo, gerou tudo e a concepção de tudo. Nós criamos o amor através de uma ligação psico-química que gera substâncias liberadas pelas glândulas cerebrais que lançam na corrente sangüínea o produto do nosso metabolismo corporal? Pode ser. Mas, creio que não seja tão meticuloso nem frio o processo de "criação" do ser chamado "amor".
O fato é que nós amamos, somos amados, e convivemos com esse sentimento que enaltece a grandeza do ser humano e dá ares elegantes ao caráter sujo do animal homo sapiens. Como a hidra do mito grego, o amor assume muitas formas – bastantes mais do que as nove cabeças atribuídas à hidra do lago Lerna. Não há apenas o amor parental especialmente visado na Carta aos Coríntios (O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso…).
Há também o amor passional, cantado por Shakespeare:
"O amor é uma fumarada de suspiros; liberto, é uma chama que brilha nos olhos dos enamorados; prisioneiro, é um mar que alimenta as suas lágrimas."
E há o amor à sociedade, aos animais, e à arte. E o amor a Deus e a ideias. E o amor ao poder, ou ao dinheiro, ou à crueldade. É. Algumas formas de amor são declaradamente perversões (o amor ao dinheiro, por exemplo) ou monstruosidades (o amor sádico, de alguns carrascos e psicopatas).
O amor pode de fato envolver características de uma hidra monstruosa, no sentido mais literal do termo, o que em certa perspectiva justificaria uma iniciativa como a de Hércules, a uma Amione distante.
Só que essa tentativa nunca teria o êxito conseguido por Hércules. No caso do amor, o Monstro e a Bela confundem-se (como na história da Bela e o Monstro). A fonte de onde brota os amores monstruosos e pervertidos é a mesma que alimenta os amores grandiosos. O amor pode inclusivamente ser fonte de ódio: ao se amar uma certa ideia de Deus, ou de Pátria, ou uma certa mulher, ou uma certa coisa, pode odiar-se tudo aquilo que resiste e se opõe a esse amor… É. O amor pode ser fonte de ódio. Contraditoriamente. Alguns dos nossos maiores amores envolvem também ódios profundos.
O amor é eterno. Como disse Camões, "o amor é o eterno fogo que não se vê". Nós somos eternos. Isso é fato. Mas não é tão claro assim, e se mesmo diante de evidências o homem não se sujeita e agarra-se à sua razão ignorante, imagine sem evidências, que é o caso de querer provar que somos eternos. Contudo, não é importante provarmos ou impormos verdades consideradas relativas. O importante no final é sermos amorosos. Só isso.
Vamos amar incondicionalmente, vamos amar à nós mesmos e aos próximos. "Ame ao próximo como a ti mesmo". Essa é a regra de ouro da nossa existência, isso resume a razão das nossas vidas. Mas nem se o mestre Jesus conseguiu convencer-nos de tal verdade, quem sou eu pra querer convencer alguém de alguma coisa? Escrevi esse texto pra deixar essa mensagem básica, como fruto de reflexão amorosa e gratidão pela vida. Obrigado leitor mais uma vez. Muita paz e compreensão!