Teoria pessoal I: O tempo, eu e as consequências inevitáveis.
O que mais me indigna é o tempo. Eu penso no tempo enquanto o tempo passa, e o tempo passa e passa, mesmo quando se trata dele o assunto. Não há pausa, não há parada, nem quando queremos nos ausentar do tempo ele não cessa. Não acaba. Não desacelera.
Eu to morrendo e eu não posso fazer nada por isso. Definho como uma erva daninha a esturricar no sol.Passar protetor solar? Para quê? Para prolongar o sofrimento de viver uma juventude falsa? Comer coisas saudáveis? Isso por acaso vai me livrar de morrer? Dizem: dará-te mais tempo. Para que eu quero mais tempo se no final das contas é na tumba fria (que por acaso não saberei que é fria já que estarei morta) em que meu tempo, meu cuidado com a alimentação, o protetor solar, as roupas da moda, as caminhadas, a yoga, a cerveja, a droga, o cigarro, o alface, o intestino que funcionava como um relógio (aliás, eu detesto tudo que funciona como um relógio), os anos de terapia, o condicionador, o remédio pro coração, o arroz, o feijão, a higiene pessoal, as vitaminas Cs, os modos à mesa, as frutas em geral, tudo que prolongue a vida acabará.
Para que eu quero mais tempo? O ser - humano vive por adiar tudo o que o assusta: o casamento, a união, a visita a um velho amigo doente, o abraço no pai... Tudo se adia porque se tem medo...
Então eu assumo o risco e a coragem de encontrar a morte quando ela se propuser a me buscar. Tomo tudo que posso, faço tudo que não devo para provar intimamente tudo àquilo que as pessoas que adiam a morte têm medo, que nunca provarão e terão o mesmo fim que eu.
Beijarei homens, mulheres e animais, me deitarei com eles, acordarei vomitando tudo aquilo de porcaria que ingeri, sairei de madrugada sem roupa, no frio, pegarei resfriado, misturarei antibiótico com vodka e sexo. Treparei sem camisinha.
Gastarei o dinheiro que não tenho para que minha satisfação seja plena, para que minha vida seja curta e que no final, quando me sentar com o tal Deus, eu possa dizer: não tivesse inventado a tentação e nem a coragem, porque assim, mulheres como eu, estariam salvas.