Jeitinho brasileiro
Em matéria de religiosidade, nós, brasileiros, não sentimos necessidade de muita coerência interior. Celebramos Páscoa e Natal com gula pagã, pinçamos os mandamentos que desejamos praticar – do primeiro ao quinto já está de bom tamanho -, embrulhamos nossas atitudes em uma noção de pecado suficientemente permeável.
Somos religiosos, não há a mínima dúvida. É que a vida fica melhor se cozida em banho-maria. Nosso Deus é uma espécie de paizão camarada a quem se recorre no aperto. Santos são como tios generosos com quem barganhamos e fazemos tratos que, às vezes, esquecemos de cumprir.
O sincretismo é exagerado: freqüentamos sessão espírita, comungamos na missa de domingo, adivinhamos o futuro nas cartas do Tarô, batemos na madeira para espantar o azar, buscamos sentido nos ensinamentos orientais...
Vale tudo: afinal, quem não sabe que a principal obrigação dEle é compreender e perdoar? E que, ainda por cima, Ele é brasileiro?
Sei lá, talvez seja rebordosa pelo fim do feriado prolongado ou mau humor típico de noite de domingo, mas a combinação de jeitinho de mais e responsabilização pelos próprios atos de menos enjoa. Quase tanto quanto chocolate passada a Páscoa.