DA ÉTICA IMBECIL.

Sabe qual é a única obrigação que temos nesta vida?

Não sermos imbecis.

Savater

A luta pertinaz a favor do que se pode chamar de “Dignidade de Vida” consiste, irrefragavelmente, na razão de ser da Ética. Seus pressupostos, portanto, devem salvaguardar a dimensão sábia da existência. Nada de devaneios, fora com abstrações alienantes. A nossa época, nas palavras de Carneiro Leão, dá um espetáculo de cumplicidade com o absurdo ético e de incoerência no campo dos valores.

Se existe, a meu juízo, uma expressão capaz de sintetizar, ao menos em parte, as éticas em vigência, na certa será “ética imbecil”.

O vocábulo imbecil é mais sério e profundo do que alguns possam supor. Vem do latim “baculos”, que significa bastão, bengala. Ora, quem, assim, é um imbecil? Sem a menor sombra de dúvida, é aquele que só sabe andar se houver uma espécie de “bengalinha”. O imbecil, afirma Savater, não é manco dos pés, mas do pensamento. Fracote e manquitela é seu espírito.

Dentre alguns tipos, apresento-lhe os seguintes: 1) Os que atravessam a vida em permanente estado de cochilo – a filosofia básica desse grupo se resume no eslógão: “tudo dá na mesma”. 2) Temos os imbecis tresloucados – para esses, o que importa é terem tudo ao mesmo tempo, isto é, “mastigar alho e dar beijos sublimes”. 3) Existem também os imbecis que não sabem aonde vão – é aquela turma dos conformistas sem reflexão ou rebeldes sem causa. 4) Um dos piores tipos, classifico como imbecil pusilânime – é aquele sujeito que sempre acaba fazendo o que não quer em virtude do medo. Ele até pode saber o que quer e o porquê, mas o seu querer não é sólido, não é seguro, é, pois, um quer frouxo, covarde. 5) Finalmente, há aqueles que não vacilam, ou seja, sabem o que querem; todavia, estão redondamente enganados sobre a realidade. Não é à-toa que se arrastam de fracasso em fracassso.

A ética, portanto, dessa gente busca sua razão de ser em algo estranho, alheio ao universo íntimo de cada um. Os acontecimentos são externos. No fundo, “nada têm a ver com liberdade e a reflexão propriamente ditas”. É a ética das muletas, das bengalas, é a ética imbecil. Não, não vale a pena.