ESQUIZOFRENIA

À noite quando insone e farto de intrigas verbais sento-me à escivaninha e derreio no acosto do hall da varanda a matéria amorfa e bolofa cansada num filme que já vi antes se projeta diante de mim tal qual uma tela abstrata ou tal quão uma cousa damnada protagoniza como ator principal um dè javú, e assim, sem que esboce reação, a invenção subtrai-me em res furtiva para um mundo de sensação nunca dantes navegado. O "reino" d'hum fidalgo, e lá vou eu. São  mares de fantasias atravessados por desígnios ambíguos, paisagem sublime e bela, mas que disfarçam mal a impermanência e a incerteza bastarda das incógnitas que em formas variadas e fugidias são a total negação de um porto seguro.

Aos cueiros o mundo real trás de volta o homem- desejo, testemunha ocular da madrugada que voraz devora feito um canibal  a escuridão tal qual o dia se faz cativo do tempo e homem prisioneiro da solidão. 

Diante desse mal abissal me vejo débil e decrépito a definhar nessa ferida de feitiçaria horrenda que sangra e supura pútrida.

Sinto-me lutando como um coleóptero para libertar-me, para limpar-me da dor, do veneno de "amor" e voar.

Eis que de repente o incomodo som tonitruante da explosão, um fragor estrepitoso do nada que encena satírica descortina à minha frente, escuto paredes desabando, ruindo sobre nós e a casa ardendo em chamas sinto logo algo que despenca sob os meus pés. 

Oh! São as minhas juras e o meu amor que guardei pra te dar meus projetos lançados ao pavimento do rés do chão rompendo-se em estilhaços e fragmentos a flecha de eros dilacera-me o coração.
 
A vida, a existência decodificada que segue como um rio caudal, o raio e o vento álgido com sua ode litúrgica e sonora fazendo saracoteios no ar em canto gregoriano que por vezes bate-nos forte ou fraco o corpo, beija-nos e açoita-nos o rosto, queima-nos e roça-nos levemente a alma e nos aquece o espírito.

À noite por um grã de areia e bravura é mais fortaleza do que o moinho do tempo e do vento, para a vida tangível, para tudo por eternos instantes duodécimos de segundos e fêz-se o silêncio. 

Um profundo silêncio em estado de surdo-mudo imaterial, impalpável e abstrata irrompe-se na imensidão da península e vai habitar a casamata da [o][ilha] do mêdo.

Eis então que a estática jaz quebrada e arrebatada pela força da vida pulsante e barulhenta voltam os céus a reclamarem em rompantes de clarão e trovões visionários, prenunciando a tormenta que se aproxima velozmente em assobios e silvos
intermitentes, gritos, ralhos, soluços, cantos, murmúrios, cantatas, urrando, tossindo, espirrando e às muitas cusparadas furtivas e sedutoras de contentamento, galantes e lúdicas em quebranto brincam de cabra-cega comigo.

Acordei! Emerso era apenas um sonho meliante da frebe-terçã. 

Fui até a fronteira das
possibilidades e por pouco a minha ausência não me fez órfão do hífen e rompir com o real.

SERRAOMANOEL - SLZ/MA - TRINIDAD - 13.03.2008.   
serraomanoel
Enviado por serraomanoel em 14/03/2008
Reeditado em 25/01/2009
Código do texto: T900430
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.