Devaneando no devaneio

Criar é manter a vida... Como eu gostaria de manter a vida através do que eu crio! Sobrevivemos através do que escrevemos. Que seja feito sempre em grande estilo.

Quando a gente está confinada, mas tendo sonhos que superam nossas condições físicas, "viajamos". Existe um poder mental muito forte que excede qualquer entendimento do óbvio, do racional, do exato. Ninguém em "plena razão" sabe mais do que aquele que está fora das razões desse mundo.

Criar é manter a vida... Criar desculpa qualquer impossibilidade. Criar é a resposta para nossos sonhos.

Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com


Texto de Artur da Távola em 13 de março de 2008:

O QUE DEIXOU DE SER CRIADO
 
O que estou a fazer com as minhas partes internas que ficaram paradas, pergunto-me. O que está você a fazer com as suas? Pergunte-me o que faço para renovar o que há de antigo em mim? E você?
Somos como um montão de anos velhos, acumulados. Vivemos a repetir o que já sabemos e experimentamos. Também repetimos sentimentos, opiniões, idéias, convicções. Somos a interminável repetição, com raras aberturas reais e verdadeiras para o novo. Somos mais memória que aventura. Mais eco do que descoberta. Somos papel carbono, xérox existencial, copiadores automáticos de experiências vividas. O ser humano precisa repetir, porque não está preparado para o novo de cada momento, para o fluir do Todo na direção da transformação permanente: é uma unidade estática e acumuladora num Cosmos mutante e em permanente transformação.
Aceitar a mudança e a transformação é ameaçar tudo o que o homem adquiriu e guarda com avareza, para tentar explicar a realidade e a vida. Sim, somos viciados em nossas próprias crenças, dependentes das próprias verdades e/ou convicções! E, como ocorre em todas as dependências, precisamos repetir essas verdades para não cairmos no pânico da dúvida, na mutação sentida como ameaça. Uma pessoa diz, com orgulho, que há 40 anos torce por um único time. Fico a pensar no que perdeu de vida, alegria e descoberta nesse tempo todo, de oportunidade de apreciar a qualidade dos demais, as virtudes dos antagonistas, o estudo dos adversários. Quantas outras vitórias deixou de fazer também suas, quantas alegrias perdeu.
A rigor, nem sempre sabemos o que fazer para renovar o que há de antigo em nós. Não me refiro ao que há de permanente, pois o ser humano é feito de permanências e provisoriedades. As permanências devem ficar. Mas as provisoriedades, que se tornaram antigas, precisam ser revistas, postas em debate e arejamento.
Criar é manter a vida viva. É ganhar da morte.
Morte é tudo o que deixou de ser criado.


Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 14/03/2008
Reeditado em 02/10/2009
Código do texto: T900208
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