TU
Queria poder te reencontrar... Será que sobrou alguma coisa da pessoa que foste outrora? Sempre tivestes escrúpulos, sentimentos... Agora o que és? Essa pessoa amargurada, fria, calculista? Não, não és assim!
Até confesso que sempre percebi a tua ganância nata, reconhecível nos planos grandiosos que fazias; sonho de riquezas, quantas lanchas tivestes? E as fazendas? Teu mundo imaginário tão povoado e rico!
Mas, mesmo com toda essa ambição eu ainda te reconhecia e compreendia. Hoje tudo mudou, esse ser que te tornaste perdeu a razão da vida, talvez uma deformidade humana que olha imparcial para a amargura alheia e não se comove; que assiste ao espetáculo triste do cotidiano e não reage; que sente esvair as forças e não se abala; e vê tudo com um torpor abjeto.