O tempo é implacável, não deixa esquecer que as coisas passam, ai!
E aquelas coisas que a gente quer que dure pra sempre? O primeiro salto-alto, o primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro filho. O primeiro marido?! Este se bobear a gente leva tempo para esquecer, principalmente quando há filhos e uma pensão pra tratar.
O tempo vai-e-vem, num desenrolar louco, basta parar um pouquinho, e pronto, tudo vai ficando pra trás e azar o teu se não souber viver, se não souber curtir e capturar a beleza destes momentos, vai pro espaço, sem dó.
Ao mesmo tempo, falando em tempo, ele ajuda com coisas que a gente não quer nem lembrar, suaviza dores, porradas da vida que não tem como não levar, ou aquelas que a gente pede.
Pais, amigos, conhecidos, que partem pra outros lugares e, também, para o infinito. Pessoas, coisas, pedaços que vamos deixando pelo caminho, perdas, derrotas, que batem duro, e quando, sem querer, lembramos, mesmo voltando a viver, são mais amenas, viram coisas do ontem.
Julgo que tenho sorte de ser poeta.
Posso viajar nos meus mundos internos usando uma lente que amplia o que vivi, e neste momento único, só meu, é quando passo uma peneira e deixo de lado o que não incomoda e cutuco a dor.
Assim, quando o poema se forma e letras caem na tela do meu computador, deixo ali um pouco de mim, arranco o que sangrava até a última fibra e viro as páginas das tristezas, ânsias e mistérios construídos dentro do meu eu e adquiridos com o tempo.
Graças por ser poeta! É o que me permite um olhar melhor sobre o tempo que deixei pra trás, posso viver mais em paz o meu presente e prosseguir minha viagem com uma carga mais leve.