PEDAÇO DE MIM

Quando era pequena e algo doía muito no peito, corria para o fundo da minha casa, onde havia um enorme taquaral, e ali ficava junto ao pé da jaboticabeira até o coração desacelerar.

Talvez fosse o respeito pelo silêncio das folhas, as cores das flores que plantava com meu pai, que me constrangiam de gritar minha dor.

Penso que devia ter aprendido ali a ser mais selvagem...sem a culpa por ser. De alguma brecha isso me escapou, e no lugar do grito vinha o choro.

Hoje, mesmo quando é o grito que sai...ele tem gosto de lágrima; tão conhecida feito as linhas da minha mão. Tudo o que queria é que fosse estranha e desconhecida essa sensação, só prá sentí-la uma intrusa, só prá poder me indignar, mandá-la embora, só prá não me (ou te) causar ferimentos...mas ela insiste e me assiste como uma platéia atenta ao desfecho final.

Não, eu não tenho a pretensão de ser maior do que fui com minha pequena idade...e não, não quero correr prá este passado. Se tivesse que correr, com a dor que sinto agora, confesso...não haveria melhor lugar no mundo que este aí...bem aí onde me encaixo entre seus braços.

Mirea
Enviado por Mirea em 25/02/2008
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