Os Oculos

Antes de sair de casa, coloquei meu crucifixo e um óculos escuros. Talvez seja para estar protegida e invisível ao mesmo tempo.

Assim, me sinto mais segura, não terei ninguém encarando meus olhos. Passar na rua sem ser percebida é a melhor coisa, passar sem se sentir fitada por pessoas que você não sabe quem são.

Meus passos são largos e rápidos, procuro não me cansar mesmo já estando esgotada. Cabeça baixa, respiração contida, coração acelerado. Ruas e ruas, homes, mulheres, crianças e cachorros.

Passo despercebida por mim mesma, não cumprimento ninguém, não vejo ninguém, apenas o chão, o asfalto.

Ainda me sinto estranha, meus óculos são maiores que meus olhos, e meu crucifixo é menor que meu coração. Tamanha grandeza adianta?

As igrejas fazem o sinal da cruz. Nós sabemos que quem carrega nossos passos é Ele.

Carros, pedras, ônibus... Rosas, espinhos.

Cabeça baixa, passos largos e rápidos. Braços soltos, minha cabeça flutua.

Meus pensamentos voam, espero encontrar alguém.

Não tem sol, as nuvens estão o protegendo. E meus óculos continuam a me tornar invisível aos meus próprios olhos.

Não quero ser notada, não me cumprimentam, não façam sinal algum. Pare!

Turbilhões de pensamentos disparam, o dia passa. Em poucos minutos a noite chega com a presença iluminada da lua.

Volto pra casa, onde continuo invisível, mas sem os óculos escuros.

Paula Rodrigues (Coka)
Enviado por Paula Rodrigues (Coka) em 11/02/2008
Reeditado em 28/03/2010
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