Os Oculos
Antes de sair de casa, coloquei meu crucifixo e um óculos escuros. Talvez seja para estar protegida e invisível ao mesmo tempo.
Assim, me sinto mais segura, não terei ninguém encarando meus olhos. Passar na rua sem ser percebida é a melhor coisa, passar sem se sentir fitada por pessoas que você não sabe quem são.
Meus passos são largos e rápidos, procuro não me cansar mesmo já estando esgotada. Cabeça baixa, respiração contida, coração acelerado. Ruas e ruas, homes, mulheres, crianças e cachorros.
Passo despercebida por mim mesma, não cumprimento ninguém, não vejo ninguém, apenas o chão, o asfalto.
Ainda me sinto estranha, meus óculos são maiores que meus olhos, e meu crucifixo é menor que meu coração. Tamanha grandeza adianta?
As igrejas fazem o sinal da cruz. Nós sabemos que quem carrega nossos passos é Ele.
Carros, pedras, ônibus... Rosas, espinhos.
Cabeça baixa, passos largos e rápidos. Braços soltos, minha cabeça flutua.
Meus pensamentos voam, espero encontrar alguém.
Não tem sol, as nuvens estão o protegendo. E meus óculos continuam a me tornar invisível aos meus próprios olhos.
Não quero ser notada, não me cumprimentam, não façam sinal algum. Pare!
Turbilhões de pensamentos disparam, o dia passa. Em poucos minutos a noite chega com a presença iluminada da lua.
Volto pra casa, onde continuo invisível, mas sem os óculos escuros.