DÚVIDAS E SOFRIMENTOS
Enquanto pensava no que deveria fazer para poder ser entendido, via que outros, mesmo sem esforços, eram compreendidos por todos que o cercavam.
Às vezes me sentia como se falasse diante de uma manada de pessoas, que me olhavam, porém não compreendiam aquilo que eu dizia.
A princípio, imaginei que não conseguia me fazer entender, por ser prolixo ou mesmo confuso em meu modo de expressar. Mas, depois de observar com acuidade os fatos, vi que a realidade era bem outra.
Meu pensamento ainda não podia ser compreendido por todos porque ia além do entendimento dos homens comuns. O pensar dos outros era entendido porque eles falavam de coisas comuns, simples, banais para homens comuns.
No momento em que compreendi o dilema onde estava metido, senti o desconforto de imaginar que tudo parecia se tornar inútil, já que nada poderia fazer para ser entendido por homens como eu.
Meu dilema aumentava, porque a maioria do mundo é composta de pessoas comuns que vivem e se agregam em cidades, vivenciando apenas um cotidiano pobre e até medíocre.
A mediocridade deste cotidiano me afastava dos semelhantes que se apresentam apenas na forma física, pois o pensamento é seletivo.
Não existe grau comparativo que possa ser aquilatado apenas pela forma física que reveste um espírito que se esconde por detrás de uma alma, que comanda o corpo humano.
A convivência a que sou obrigado suportar dentro de um mundo quase sem solução coloca-me perante este mesmo mundo como um observador sarcástico que apenas sabe apontar os erros e jamais errar.
As consciências que parecem existir não passavam de mentes vazias que já não encontram neste mundo, onde se pretende viver com dignidade um entendimento real e verdadeiro.
E quanto mais passa o tempo, às diferenças se evidenciam diante das pequenas mentes de pessoas somente comprometidas com a mediocridade do mundo.
Minha vontade fica presa ao mundo pela necessidade de participar do processo evolutivo e, ao mesmo tempo, queimar as etapas a que estou obrigado pelas necessidades da lei.
Fica a eterna angústia de um ser que se encontra num mundo, sabendo que não pertence ao mesmo.
Os pensamentos passam velozmente por minha mente atribulada pelo sofrimento, por sentir e não conseguir encontrar uma correspondência das pessoas que circulavam e passam diante de mim como se nada mais existisse.
Estou cercado por todos os lados, mas estou só, isolado, sem encontrar quem possa comungar meus pensamentos e anseios.
As pessoas se colocam no mundo como meros aspectos físicos, mas com cabeças vazias, que somente são preenchidas por coisas fúteis, banais, sem consistência e nenhum compromisso com a verdade e até mesmo com os aspectos que o mundo nos coloca.
Um mundo tão grande, com tanta gente e poucas pessoas conseguem comungar idéias ou ideais que visem alavancar a raça rumo a um destino que deveria, já há muito, ser o objetivo espontâneo de todos os seres humanos.
Agora, no entanto, vejo que tudo não passa de formas grotescas que perambulam sem rumo. Os objetivos são apenas meros aspectos que são orientados por desejos que criam e alimentam as almas carentes de homens que se vendem por qualquer preço, tentando sobreviver dentro do caos que criaram para si mesmos.
E por mais que eu tente manter-me alheio a tudo, sempre sou afetado. Meu espírito se revolta com as pequenas coisas que são os objetivos maiores de pessoas que não dão sentido a vida.
As minhas palavras ficam soltas sem conseguirem encontrar nenhum apoio e respaldo. Soltas, sem destino e sem rumo, enquanto espero que possa surgir de algum lugar do passado, presente ou futuro, alguém que possa entender e comungar as mesmas idéias.
Porém, enquanto nada disto acontece, prossigo trilhando meu caminho, consciente e sabedor de que, se ao final da jornada não encontrar ninguém que possa ouvir, ainda assim estarei falando e pensando as mesmas coisas. As mudanças que surgem estão de acordo com a evolução normal do mundo e das coisas.
E diante disto sempre resta a esperança de saber que a evolução nunca tem pressa, pois tudo ao seu tempo, a mudança processa.
19/12/03-VEM