É PRECISO CATIVAR
(Gn 2, 4b-7)
Na famosa obra de Saint-Exupéry, “O Pequeno Príncipe”, o principezinho encontrou uma raposa e começaram a conversar. O pequeno príncipe chama a raposa para brincar, mas a raposa diz que não pode porque ninguém ainda a havia cativado.
O príncipe começa a questionar a raposa, e seu questionamento é um só: “O que é Cativar?”
A raposa fala muita coisa e não responde a pergunta do principezinho. Ele insiste em saber e insiste até que a raposa lhe responde:
“É algo quase sempre esquecido.
Significa ‘criar laços’ (...)
Eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim (...)
Mas, se tu me cativas, nós teremos
Necessidade um do outro.
Serás para mim único
E eu serei para ti única no mundo (...)
Se tu me cativas,
Minha vida será cheia de sol.
Conhecerei um barulho de passos
Que será diferente dos outros (...)
Os teus me farão sair da toca
Como se fosse música (...)
A gente só conhece bem
As coisas que cativou” .
Temos cativado muita gente por aí? Temos nos cativado a nós mesmos? Temos sido cativados? Deus tem nos cativado? Temos cativado Deus?
Parece impossível cativar. Para cativar é preciso ter entrega, partilha, sinceridade, sensibilidade, fraternidade, veracidade, e acima de tudo, é preciso AMOR.
Padre Zezinho canta:
Meus olhos hão de ver
O que agora é impossível:
Um novo Céu e uma nova Terra
Cordeiro e lobo ali nas mesmas águas
Sul e Norte a celebrar o fim de toda opressão
Os inimigos dando as mãos
Meus olhos hão de ver o impossível:
Um novo Céu e uma nova Terra
Um novo Céu e uma nova Terra.
Quando dizemos que alguém nos cativou, será que realmente fomos cativados? Mais uma vez lembramos a raposa: “a gente só conhece bem as coisas que cativou”.
E ainda a raposa: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
No segundo relato da criação, Gn 2, 4b ss, Deus cativa o homem. E é um pequeno gesto de Deus que cativa o homem: “soprou alento de vida em seu nariz, e o homem se transformou em ser vivo” (v7). Alento de vida! Para cativar é preciso o sopro da vida.
Nossas conversas, brincadeiras, têm alento de vida? estamos exalando vida no nosso dia-a-dia?
É preciso cativar! Se cativamos uns aos outros, criamos sinais que nos lembram a pessoa cativada. O que nos lembra Deus? Sejamos nós um sinal de Deus para os outros. Um pensamento de um autor anônimo: “Lembre-se que talvez você seja o único Evangelho que o seu irmão lê”.
Vamos mostrar para o mundo, para o universo todo, que é bom cativar e ser cativado. Vamos cativar muitos para Deus, e vamos nos deixar cativar por Ele.
Martin Valverde (músico mexicano) sabia disso quando disse que “mais vale um músico conquistado por Deus, que um músico que conquistou muitos para Deus e não se deixou conquistar”.
Jesus soube cativar por onde passou, e até hoje cativa. Maria também cativou e cativa. Os Evangelhos pouco falam de Maria, e ela cativa a tantos com a simplicidade de sua quietude.
Para sermos bem sucedidos na tarefa de cativar precisamos de momentos de quietude, e nestes momentos usar a comunicação do espírito: o olhar, o sorriso e o gesto.
Mas precisamos sempre nos lembrar de que para tudo isso é necessária uma vida de oração. Rezar com a alma, louvar com a alma, cantar com a alma. E quem nos ensina, inspira, incita e impulsiona nestes gestos é o Espírito Santo.
Jesus, que tanto cativou, é modelo de pessoa que reza. Como nos lembra a Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas: “sua atividade [de Jesus] cotidiana está muito ligada à oração. Mais ainda, como que brotava dela, retirando-se ao deserto e ao monte para orar (Mc 1,35), levantando-se muito cedo (Mc 1, 35) ou permanecendo até a quarta vigília (Mt 14, 23.25) e passando a noite em oração a Deus (Lc 6, 12)” (IGLH 4).
E Jesus pediu que nós orássemos, da mesma forma que ele orou, insistiu na necessidade da oração (Lc 18,1). Desta maneira Jesus cativou e cativa, o que nos leva a crer que conseguiremos cativar e ser cativados se tivermos uma vida de oração.
Encerrando essa meditação, peçamos ao Senhor que nos cative, e que o Santo Espírito nos ensine a cativar.
Seja Maria nosso grande modelo a cativar o mundo para que seja ele santificado.
Em verso e em canção, recolhamo-nos em sublime oração.