Habemus Papam

Habemus Papam

Quando, na manhã do dia 21 de abril, me deparei com a notícia do falecimento do Papa Francisco senti uma angústia profunda. Era como se fosse uma pessoa muito próxima. Pessoa que via frequentemente. Era um vazio que sentia.

Durante o dia, as redes sociais foram tomadas por frases e imagens do Sumo Pontífice falecido. Uma das imagens me chamou muito a atenção: a caminhada solitária, porém solidária, na Praça de São Pedro durante a pandemia para rezar pela humanidade. Aquele homem de hábitos simples carregava sobre os ombros a obrigação de rezar por todos, mesmo os que não professavam a mesma fé - às vezes fé alguma. Que gesto! Enquanto isso, inúmeros ditos “cristãos” exigiam que as pessoas voltassem para a vida tida como normal. Inúmeros “cristãos” se preocupavam em se beneficiar com um dólar a cada dose de vacina vendida, ou desviar verbas que estavam destinadas para a aquisição de respiradores para as UTIs. Tudo estava um caos. Muitos “cristãos” tentaram e se beneficiaram desse caos.

Voltemos ao Papa. Sua personalidade trazia a marca indelével do diálogo e da acolhida. Acolhia todos, pois para ele “Todos são filhos de Deus”. Com isso, rompia com a concepção de que a Igreja abomina o pecador. Segundo os ensinamentos do Cristo, o que deve ser estranho aos filhos de Deus é o pecado, não o pecador. O pecador deve ser acolhido em toda a sua plenitude, havendo reconhecimento de culpa e arrependimento Deus é capaz de redimi-lo. Para além, não fazia distinção de pessoas. Os excluídos da sociedade eram os seus preferidos. E foi com essa consciência cristã que Jorge Bergoglio conduziu o seu papado. Abrindo as portas da Igreja para todos, sem se importar quem era o outro. Foi um Santo Papa. E, por causa de sua postura, foi duramente criticado por uma horda de pseudo cristãos nas redes sociais, até comemorando a sua morte. Ele não se importou com as discrepâncias de “cristãos” conservadores. Ele conduziu a Igreja por um caminho estreito, justo e correto. Era um ser humano, possuía defeitos, mas era Santo.

Recordo dos outros papas que tive o prazer de viver durante seus respectivos governos, João Paulo e Bento, mas nenhum me marcou mais. Nem mesmo aquele em que pude estar próximo, tão próximo que se esticasse o braço tocaria em suas vestes. Sim, estive muito perto. O ano era 1991. Um mês de outubro. Ensaiamos por meses para cantar uma música para ele. Casinha de Periferia, Padre Zezinho, foi entoada por centenas de crianças sob chuva intensa e no meio da lama. Mesmo com essa oportunidade eu não consigo me fazer próximo ao João Paulo II. Sou muito mais próximo do Jorge. Aquele em que os ateus reconheceram a imagem do Cristo Vivo. Em que o Evangelho era traduzido em ações e palavras. O despojo dos bens materiais e do luxo foram inúmeras vezes percebidos e sentidos.

De todas as coisas que eu pudesse citar sobre o Francisco a que mais me chamou atenção e marcou foi a seguinte frase: “Mas não pode subtrair-se à centralidade dos pobres no Evangelho. E isto não é comunismo, é puro Evangelho! Não é o Papa, mas Jesus, que os coloca no centro, nesse lugar. É uma questão da nossa fé e não pode ser negociada. Se não aceitardes isto, não sois cristãos!”

Sem mais.

Habemus Papam para a História.

Professor Luiz
Enviado por Professor Luiz em 29/04/2025
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