Filho é Pipa.

O poema _*"Filho é pipa",*_estabelece uma metáfora poderosa, entre a criação dos filhos e o vôo de uma pipa, articulando elementos de resiliência, autonomia e aprendizado.

Integrando a psicologia do desenvolvimento e elementos do _*"Canto Geral",*_de Pablo Neruda, podemos ampliar essa reflexão:

_*Vento, linha e embate - Suporte e desafio na psicologia*_

O "vento" simboliza, o ambiente afetivo e social necessário, para o crescimento, alinhado à _*"Teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal" de Vygotsky*_, que enfatiza o papel do apoio, (pais, educadores) para que a criança transcenda seus limites. A "linha", representa os limites e orientações que dão estrutura, enquanto o "embate", remete aos conflitos essenciais para o amadurecimento, como proposto por Erikson, em sua teoria dos estágios psicossociais. A pipa, só voa, quando há equilíbrio entre liberdade (vento) e direção (linha), assim como a criança, precisa de segurança e desafios, para construir sua autonomia.

_*"Voltam rasgadas, tronchas" - Resiliência e cura*_

As pipas danificadas, refletem as feridas emocionais e físicas, que os filhos acumulam ao explorar o mundo. A psicologia positiva ressalta, que a resiliência se fortalece, quando há um "porto seguro", (o colo dos pais) para reparação. A metáfora do "remédio" e do "sopro", remete à capacidade de transformar, falhas em aprendizados, ecoando a ideia de Bowlby, sobre o vínculo seguro, como base para a coragem de recomeçar.

Neruda e a coletividade no _*Canto Geral*_

Em "Canto Geral", Neruda celebra a luta coletiva pela liberdade, como em "Alturas de Machu Picchu", onde a história dos oprimidos, ressurge como força ancestral. A pipa, ao dançar no ar, não voa sozinha, depende do vento, (o coletivo) e da linha. (a memória cultural). Assim como Neruda, canta a América Latina ferida, mas resistente, ("eu venho falar pela vossa boca morta"), o poema, sugere que os filhos, carregam cicatrizes como marcas de sua história, mas seguem voando, porque estão enraizados, em um _*legado de cuidado e resistência*_.

"É no vôo que se aprende a voar"

A frase sintetiza a dialética entre teoria e prática. Para Piaget, o conhecimento se constrói , na interação com o mundo; para Neruda, a liberdade é conquistada na luta ("A liberdade é como a manhã: há quem espere dormindo, e há quem acorde andando"). O poema e "Canto Geral", convergem na ideia de que, a _*existência plena, só se alcança no movimento*_, mesmo que isso implique quedas. A "pipa bonita", não é a intacta, mas a que dança — assim como a beleza humana, reside na coragem de persistir, ainda que imperfeita.

A metáfora da pipa, em diálogo com a psicologia e Neruda, revela que criar um filho é equilibrar _*raízes e asas*_: oferecer estrutura afetiva (linha), incentivar a enfrentar turbulências, (embate) e confiar que, mesmo nas quedas, há poesia no recomeço. Como escreve Neruda em _*Canto Geral*_, _*"Das cinzas, nascemos outra vez"*_ — um canto à resiliência, que ecoa no sopro que faz a pipa subir, rasgada, mas mais sábia.

_*Barthes*_