Volte a si mesmo
E se ao invés de se preocupar em mudar o outro você se preocupasse em desenvolver, em si mesmo, coisas que ninguém, jamais, poderá tirar? Isso porque é impossível mudar alguém. Às vezes nos sentimos onipotentes, como se tivéssemos poderes inimagináveis, e consideramos sermos capazes de transformar uma pessoa. Só que isso não é verdade. As pessoas só mudam se forem capazes de perceber a necessidade que possuem de mudar. Caso contrário, só porque queremos, ninguém vai deixar de ser aquilo que tem sido. Vide você mesmo. Enquanto não despertar para a sua necessidade de mudança continuará se desdobrando por alguém que não lhe retribui o esforço. Mas talvez se dê conta do tempo que está perdendo e da energia que está desperdiçando. Empenhos que seriam muito mais recompensados se a sua postura mudasse um pouquinho: tão voltado ao outro, volte-se a si mesmo e floresça – suas flores, ainda que caiam, nascerão outra vez.
Por vezes nos submetemos a relacionamentos extremamente adoecedores na esperança de que algo, magicamente, aconteça. É quando nos mantemos em uma amizade que se tornou obsoleta. Ou em um trabalho do qual, na verdade, nem precisamos. Ou mesmo em um casamento que, no atual momento, está desgastado, sofrido, e nossas conversas sinceras nada produzem naquele coração que nos acompanha. Insistimos. Tentamos. E nos esforçamos. Às vezes somos amigos por dois, somos funcionários por dez, somos amantes por todos. E continuamos lá, insatisfeitos, frustrados, decepcionados, sentindo um vazio colossal que, em nossa fantasia, deveria ser preenchido pelo outro. E isso é um erro. É um erro porque nós mesmos precisamos nos preencher. O outro, de uma forma ou de outra, em algum momento irá embora. E se ele for aquilo que nos preenche, deixará conosco um buraco profundo. Ao contrário, se formos capazes de nos preencher a partir da nossa própria existência, daquilo que gostamos, daquilo que sabemos que somos, o outro poderá ir embora, e nós poderemos sofrer, mas o sofrimento não será trágico ou colossal: a dor passará e, ao passar, estaremos disponíveis às outras experiências que puderem se achegar.
Então se desenvolva. Deixe de esperar do outro algo que você pode fazer por você. E não é que você deva se tornar autossuficiente. Claro que não. Mas que se torne autônomo e independente. Que se enriqueça e cresça. Que amadureça ao ponto de poder decidir por quem vale a pena lutar e em que medida essa luta faz sentido; ao ponto de deixar ir aquilo que não quer ficar. E esse desenvolvimento pessoal nada poderá tirar de você. Isso não é libertador? É difícil, claro. O processo pode ser longo. Ao menos o investimento terá retorno: uma vida livre de expectativas irrealizáveis!
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)