Afinal, o que é saudade?
Li em algum lugar que a saudade é o desejo pela companhia do outro ou a vontade de reviver um tempo ou momento que já passou.
Penso aqui, afundada no meu eu solitário, que a saudade é o desejo de realizar algo que se aconchegou na memória.
O que posso dizer da saudade, é que as vezes ela percorre todo meu ser, o que me faz crer que vivi determinado momento, com tudo de mais genuíno que havia de mim. E a memória, agora conjugada a saudade, me vem como um aroma, um sabor, uma maciez, uma canção. Um rosto que por vezes acompanha um olhar. Um olhar que as vezes escorre lágrimas. Lágrimas que refletem dores. Dores que escrevem uma história. História que contemplou uma vida. E num movimento sempre vago, tento agarra-la e engoli-la, esquecendo-me de sua natureza abstrata. O que posso dizer da saudade que sinto com todo o meu ser? A sua parte dentro de mim sempre será uma falta.
Meu desejo maior, talvez, seja residir na saudade e em tudo o que ela significa. Naquele apartamento, naquela casa, naquela canção, naquela mesa, naquele almoço, naquele café, naquele colo. Em você. Queria eu poder morar na saudade, tanto quanto ela mora em mim.
O que sinto da saudade, é que passei a estar presente em tempos diferentes. Estou presente aqui, em pleno 2025, refugiada em todos os tempos anteriores a esse. Caminho nessa rua onde minha maior saudade não pisou, enquanto me refugio naquela casa que um dia me abrigou. Preparo esse café que tomo hoje, enquanto observo você cortar o pão que acabou de assar há anos atrás. E aqui me derramo em lágrimas, enquanto abro um leve riso quando também estou lá.
Me aconchego no seu abraço enquanto me afogo na dor de não me encaixar. Não me encaixo aqui nesse mundo e também não pertenço mais aquele que se foi com você. E aquela questão de "quem eu sou?", transita de um tempo ao outro sem nunca chegar no presente em que resido. Afinal, quem sou eu sem a parte que me encaixa? A sua parte dentro de mim sempre será uma falta, assim como eu também me falto.
Hoje há um fragmento do infinito em meio a vida, a morte e o tempo. O tempo infinito de um passado que não mudará, o tempo infinito de um futuro que não chegará. Há o tempo presente que resta a saudade, onde há você e eu para sempre.