Desistir.

Seria como se todas as vozes que ecoam nos muitos de mim, se calassem ao mesmo tempo. Sem que nada fosse possível trazer de volta, nem fazer permanecer na plenitude da minha consciência. Há essa tal consciência! Ela tem muita culpa nesse caminho invisível, até chegar nos braços intolerantes de uma glória vazia e curta. Vem daí essa pressa em conquistar, quero a todo custo sentir o gosto alongado da vitória. Com isso nem percebo o quanto de energia dedico a isso, canalizo cada gota a um objetivo que perdi o contato com tudo fora dessa atmosfera. E quando quebrado esse helo, passo por uma dolorosa travessia no oceano gelado do fracasso, que antes parecia ser apenas uma paisagem avistada de longe. Agora vem o terror, o calor nas minhas mãos, boca seca e uma sensação de que não fiz nada direito. Como se cada coisa que deixei de viver, provar e aproveitar durante toda essa busca insaciável, agora batesse a porta da minha consciência abatida e quieta. E todos os diversos "eu" que tive que ser até aqui, agora dobram os joelhos pela primeira vez numa súplica forçada e sem conexão. Só por fraqueza e medo, medo de encarar uma visão que talvez seja só um déjá vu, algo paralelo e inevitável que sobrepõe tudo que vim construindo até aqui. Isso mesmo! Saí do nada para o encontro de um vazio ainda maior, doloroso e muitas vezes com um legado devastador. E sempre em todo tempo vim vendado, por uma convicção vaidosa meramente humana de que seria diferente. Que iria chegar vitorioso com todas as vozes clamando e gritando por mim, numa útopia distorcida do verdadeiro conceito de vencer. Esse é o "fim" que penso e cultivo, então não faz nenhum sentido colher diferente. Sem fogos, gritos, nem luzes focadas em mim, tudo escuro, frio e tomado por um silêncio impiedoso gritando minhas falhas inconscientes... desistir!!