Há um vídeo maravilhoso de Fernanda Montenegro citando um texto de Simone de Beauvoir, feito no final da vida dela:
"A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo.
Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente, o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo. Vivi num mundo de homens, guardando em mim o melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos."
Maravilhosa! Lindo demais esse texto! O Físico e o cronológico...
O tempo vai se materializando no corpo, mas a nossa consciência é uma existência paralela, e nela não há relógios. Ela se projeta da maneira que deseja, viajando para o futuro e o passado, na plenitude do presente, e toda essa síntese não a aprisiona a nada, nem mesmo ao seu corpo físico. Além disso, tratando-se de Simone de Beauvoir, saiu do determinismo mecanicista e está também na força do feminismo e do existencialismo, na sabedoria dita e adquirida sobre a existência. A vida vai se construindo... impactante em sua totalidade, mas igualmente bela, em toda a sua finitude. Tudo é uma imensa possibilidade (projeto em constante construção) e superação, ainda que poética.
Até Breve!
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