Rotina 2
Manhã de quarta feira. Feriado. Passando o café, sempre lembro do Chico: “todo dia ela faz tudo sempre igual”. A verdade aí está, tudo igual, mas tão diferente: o contexto, a quantidade, o ar, a vida. Ato mecânico, ato contínuo, em outro cenário. Panela de feijão no fogo. Perdi a mão para fazer algumas coisas. Aprendi a cozinhar, mas não a gostar da minha própria comida. Me questiono, seria o peso da autocrítica feroz, ou simples falta de talento? Mais um ítem que vai pra lista de coisas que adoraria saber fazer, comida, artesanato, desenho... Por que não focar no que eu sei fazer? Aliás, o que eu sei fazer? No vazio dos dias percebo que não quero mais certas coisas. Isso mesmo, são coisas demais! Depois do muito que ficou para trás, o essencial traz revelações importantes. Espaços minimalistas não me cabem. Ainda que superficialmente, quero espaços onde eu caiba com tudo o que ficou. Não preciso seguir as tendências da moda. Nunca foi o meu estilo. Subversiva e careta. Meu único sentido é andar na contramão. Dona das minhas próprias contradições, e paradoxos. Intensidade não é sinônimo de entusiasmo. Há fogo demais nas cinzas da vida. Adormecidos dias de chuva, sonolenta existência, o novo vai se desenhando, ainda que tudo pareça o mesmo. Nova manhã, o café fresco, a incerteza dos planos do universo, o coração atento e pronto para o que será o novo dia. Sim, ela faz tudo igual, mas já não é a mesma…
*Si*