Lágrimas de um suicida

A dor de um suicida é uma maré que consome por dentro, em um silêncio profundo onde as lágrimas não se ouvem, mas ainda assim corroem a alma. Ele caminha por um labirinto escuro, onde as paredes são feitas de culpa, angústia e solidão. O peso da dor é imenso, mas ela se cala para o mundo exterior, como se fosse uma tempestade interior que ninguém vê, mas todos sentem. Para o suicida, a tragédia não está no fim da vida, mas na ausência de salvação, na perda de propósito, onde o último ato parece ser a única forma de apagar o vazio que o consume. No seu olhar, encontra-se a sensação de que ninguém mais pode ser tocado por sua dor — um último grito mudo antes da paz eterna que procura.

A dor de quem fica, o lamento de quem observa a perda, é ainda mais cruel, pois ela é de um peso que não passa. São os ecos que reverberam em uma casa vazia, os espaços que se tornam imensuráveis, e o grito é cortado pelo vazio do que ficou. Fica a dúvida, a culpa implacável de não ter visto, de não ter escutado o chamado de socorro, a pergunta que persegue: o que poderia ter sido feito? O vazio do que restou depois que alguém amava se foi é de um peso indescritível, uma falta eterna que nunca cessa de crescer, como uma sombra que, ao invés de desaparecer, se aprofunda na solidão da saudade.

O olhar de um homicida, carregado de dor, é um espelho partido. Ele também carrega a tragédia, pois a vida já lhe foi roubada antes mesmo do ato. Cada morte que causa destrói uma parte de si, um pedaço da humanidade que parece não mais existir, dilacerado pela escuridão do próprio ser. Para o homicida, o ato não vem de um lugar de indiferença, mas de uma dor retorcida e imensa, onde a vida parece tão sem valor que sua própria existência cessa de ter importância. A vítima, em sua agonia final, traz consigo uma dor sufocante, o terror de uma morte anunciada, do fim abrupto que coloca tudo o que amou no passado. Sua dor é profunda, imensa, e vai além da morte. Ela vai para o espólio de memórias que não mais têm futuro.

E nessa tragédia, a melancolia permeia o ar. Ela se derrama como uma chuva fria que não termina nunca. Ela vive no vazio, na perda, nas sombras da incompreensão. Uma dor compartilhada que nunca encontra alívio, uma dor contínua que não faz distinção de quem a experimenta. Essa melancolia é uma corrente invisível que liga o suicida àqueles que ficaram, o homicida à vítima, todos na mesma tragédia implacável, na mesma ausência. A profundidade da dor humana, seja no final da vida ou no recomeço após a perda, é tão vasta quanto o infinito — um abismo onde todos se perdem e, ao mesmo tempo, se encontram na partilha da dor que, infelizmente, nunca passa.