Pesadelos e paisagens noturnas
Existe um mundo diferente e eu vou até ele de vez em quando nos meus sonhos. Lá é sempre noite. Lá não tem muitas pessoas. Lá é onde estou agora.
Caminho por uma floresta muito grande, não sei como cheguei aqui ( é sempre assim) e não sei quando vou embora ( é sempre assim). Vou andando em linha reta, mas parece que a paisagem não muda, parecem as mesmas árvores sempre, não importa o quanto eu ande.
Quanto mais eu ando mais me angustio, meu coração acelera e não sei o que fazer. Depois de muito tempo assim algo me acerta, eu apago e acordo em outro lugar.
Estou deitado na areia e minha cabeça dói. Levanto e vejo o mar, está calmo e silencioso, eu nunca estive aqui antes. Não tem ninguém em volta, nada em volta, apenas a areia e o mar. Sento e espero, mas nada muda, eu preciso fazer alguma coisa. Grito, mas não tenho resposta, olho pro céu e percebo que ele é rosa e sem nuvens, decido entrar na água e logo no primeiro passo dentro do mar eu caio. Grito, estou apavorado, não paro de cair. A minha volta escuridão, mas percebo alguns rostos passando por mim, não vejo detalhes, ouço mas não entendo, depois de um tempo eu caio no chão duro.
Ainda não levantei, sinto meu corpo doendo demais e tem sangue na minha cabeça. Dessa vez estou numa casa, precisamente uma cabana e tem alguém comigo. Vejo um velho, negro, em torno dos 70 anos, terno preto, muito arrumado e ele me observa sem ajudar. Quando finalmente eu levanto ele me olha nos olhos, ri e diz:
- Fez boa viagem?
Não consigo responder, estou me sentindo tonto, exausto e perdido. Ele vem em minha direção e toca minha cabeça que para de sangrar imediatamente. Surpreso eu pergunto como ele fez isso e ele me diz:
- Não fiz nada, você não estava sangrando, não há machucado, só na sua mente.
Não entendo nada, me sinto mais perdido que nunca, mas ele me pega pela mão e vai me levando até a porta, ele abre a porta e me mostra o que há lá fora. Nada, simplesmente nada, puro vazio. Ao perceber meu espanto ele me diz:
- Você ainda não criou esse cenário. Estou ansioso pra ver como vai ser, eu preciso sair daqui.
Eu? Eu criar o cenário? Será que tudo isso é criação minha?
Resolvo testar e imagino um lindo jardim florido do lado de fora da casa, muito sol, verde e muitas pessoas. Nada acontece. Mais espanto. O velho ri de novo e me diz:
- Você não pode criar fora da sua natureza, no outro mundo que você chama de real o criador é outro, mas aqui é tudo um reflexo de você mesmo.
A floresta, o mar, a solidão, o velho... tudo... todos os cenários desse pesadelo noturno são reflexos de mim. Finalmente eu acordo e entendo que o mundo pra onde vou nos meus sonhos é o que eu sou para o mundo real. Não tenho mais medo e começo a planejar como irei criar aquele jardim, que é o que eu quero ser a partir de hoje.