TODO MUNDO PRECISA DE TODO MUNDO
Vida ... tecida de contínuas relações
Surgidas [estas] de vivos e precisos contatos
E ved’então a História a s’escrever no tempo
Ah, não poderia ser diferente!
As relações ...
Tecidas, às vezes, de contraditórios encontros [que um dia se fez]
Entre afagos e abraços pelos que se compreendem e se amam
Na placidez da mansidão do tempo
Ou entre tapas e choques das lanças que um ao outro se mira
(Sem piedade)
A nascer-se da fúria da ventania do tenebroso momento
Onde muitos deste modo seguem
E, destarte, entre pinceladas a se fazer entre amores ou ofensas
Onde casualmente (será?) tantos se trombam ou s’esbarram nas esquinas da vida
E alguém disto duvida?
Ó duro [tempo do] exílio qu’em tal grau s’estende!
E como perdura pelos tantos que passam por sua porta!
(Quem sabe, por isso nascemos chorando)
Oh! E quando, pois, tudo findará?
No existir que não se dá senão nas frequentes relações
E acaso poderia ser d’outro modo?
Todavia, verdade é que somos "entes sociais" (pelo menos na "teoria")
Ao que disto muitos já sabem (pelo que foi ensinado na escola)
E dependemos das relações
E por elas vivemos
A que não conseguimos nem podemos viver ... sem os outros
Pelo que de todos, portanto precisamos ... reciprocamente
É verdade!
Não sei se por sacanagem da Vida,
mas fato que ninguém pode (ou não deve) viver sozinho
D'outra verdade que talvez ninguém "conseguiria viver" isoladamente
(Por mais que quisesse)
Sobretudo s'estiver dentro de um aglomerado urbano (dentro d'uma cidade)
E assim é [pelo que se vê]:
O doente precisa do médico ... e o médico precisa do doente
O empregado precisa do patrão ... e o patrão precisa do empregado
O padre precisa dos fiéis ... e os fiéis precisam do padre
O comerciante precisa do freguês ... e o freguês precisa do comerciante
O escritor precisa do leitor ... e o leitor precisa do escritor
O cliente precisa do agiota ... e o agiota precisa do cliente
O promíscuo precisa da prostituta ... e a prostituta precisa do promíscuo
O viciado precisa do traficante ... e o traficante precisa do viciado
O marido cafajeste precisa da amante ... e a sua amante dele precisa
O coveiro precisa do defunto ... e o defunto precisa do coveiro
Ou diante tudo acima alguém ainda acha que não?
E por aí se vai ...
Ai, nefasta ou, quem sabe, bendita antropológica condição nossa
a que dependemos, pois uns dos outros
Pelo qu'então a todos nest'instante eu pergunto:
"Seria um mal ... ou seria um bem?"
Mas, pelo sim, pelo não, eis como se resume a vida:
"Todo mundo precisa de todo mundo"
(E tolo quem acha que de ninguém precisa)
A que queremos o outro ... junto a nós (ainda que inconscientemente)
Nem que se for para o maltratar, machucar e explorar
(Como tantos assim o fazem ... com inegável prazer!)
05 de janeiro de 2025
IMAGENS: FOTOS REGISTRADAS POR CELULAR