O QUE NUNCA DEVERÍAMOS ESQUECER
Crer-se, então, que o mundo pode ser dele?
E quem não acredita?
Crer-se, pois, com a razão ou co’a imaginação?
E será que algo possa ser “realmente” nosso?
Quem sabe!
A ânsia a perseguir o que jamais poderá ser unicamente d’alguém
E a miserável alma nunca se acalma
Do coração que jamais se aquieta
E que uma hora vede-o a fibrilar ...
E parar ...
E nest'hora alguém pergunta (ou, na verdade, todos):
Por que o que tanto quero não pode ser meu?
Será que não?
O prazer de se ter o poder (enquanto d’ele goza)
O poder a s’esgotar com o tempo ... a energia do próprio prazer
Por qu’esquecemos (tão facilmente) que tudo acaba e morre?
Quem nos tirou isto de nossa memória?
A terra a se abrir n’alvorada de cada dia que devagar se clareia
E eu a percebo nest’hora
Mas depois, oh! tudo s’esconde
Quem é dono de tudo no mundo que não sejamos nós mesmos?
É verdade:
O que é visto
e ouvido
aos olhos e aos ouvidos
pertencem
Sim, é deles ... “propriedade” (de cada qual)
A ser, pois, de seus devidos sentidos
Mas somente deles
Pelo que lhes ... “pertencem”
(como que por direito)
Quando em cada qual de sua “porta” entra [e por um tempo fica]
E enquanto permanecem são deles
Na mística (mas real) dimensão do singular sentido
A se concluir que enquanto eu vejo aos meus olhos pertence
Qualquer coisa
E o mesmo se diz aos ouvidos
O que quer que seja
Tudo, tudo, tudo
Para todo mundo
E, portanto, tudo no mundo
pode ser de todo mundo
Oh! Mas por que não nos contentamos com o que a tais sentidos
[a todos] é dado?
E assim, queremos que o “tato” o tenha?!
Ai! A doença da “cobiça” ...
E também da “inveja”, da “ganância”, do “apetite”, da “avidez”, do “ciúme” ...
Filhos da cupidez e do insano e louco "desejo"
E não é que o tato quer deles “tomar posse”? ...
E o que é pior: de forma egoísta
(a se ter só par’ele próprio ... e não dividir com ninguém)
De tudo o que a todos os olhos e ouvidos se oferta
Sem nenhuma distinção de pessoas
Mas, o que é “realmente” nosso ou de cad’um?
“Realmente” ... ah! simplesmente nada
E por quê?
Uma coisa é “realmente” sua se for “para sempre”
E não apenas ... “por certo tempo”
Ainda que por um longo tempo (se é que existe de fato “tempo longo”)
Mas a verdade é que n’uma certa hora vede que acaba (o que for)
Ou porque se deteriora (pelo que se consome)
ou então visto que morre
E assim, com o tempo foge e vai embora (sem se despedir)
A ser de nós tirado
A se concluir que só quem tem o “tempo” é “realmente” rico
E como ninguém é dono do “tempo” todo mundo é pobre
É uma pena qu’esquecemos disto [sempre]!
E assim, lutamos contra todos (e nos matamos) por nada
Já que no final (ou mesmo antes disto) não ficamos ... com nada
01 de janeiro de 2025
IMAGENS: FOTOS REGISTRADAS POR CELULAR