Dos amores às perdas
Perco a conta de quantas vezes amei na chuva. Nela ouvi e construí várias histórias boas, alegres, tristes, singelas, devastadoras. Todas elas, de alguma forma, para o bem ou para o mal, se tornaram eternas para mim.
Nessas histórias, às vezes havia músicas, quase sempre. Lembro de quando Cazuza me abraçou há algumas semanas e de Bon Jovi tocando ao fundo há alguns anos. Além da chuva e da música, as vezes sinto o cheiro do cravo, do café, do pão... Da saudade.
Flores e folhas decoram várias cenas dos meus amores. Quem diria! Do amor já fui girassol, ipê, rosas, flores de plásticos e papéis. Fui flores que nunca soube o nome e plantações que já me deram algum sustento. Já plantaram, colheram e do mesmo me deram de comer. Eu que sempre fui outonal, nos momentos de amor, floresci na primavera.
Por mais casual que fosse, Pitty já simbolizou um encontro em que "Equalize" ressoou na minha cabeça naquelas sextas-feiras a noite, que se encerraram abruptamente sem um adeus. "Eduardo e Mônica" tocou quando aquela outra moça me pediu em namoro após dizer que me amava. Sofri com Cazuza e Skank, respectivamente, quando amei aquela mulher como "minha flor, meu bebê" e quando ela partiu sem reconsiderar o "amor imperfeito" que vivemos.
Uma vez, "Home" simbolizou um encontro que se estendeu por dois anos, com um garoto que decidiu fazer morada em mim. "Estávamos conectados a linhas invisíveis, que nos amarraria pela eternidade". Quatro anos depois, andando só, com minha casa vazia, ainda sinto-me amarrada, de alguma forma, àquele que um dia me teve como lar.
Da chuva à música, também disserto sobre o amor e a perda.
A primeira perda que tive para o silêncio, o céu se fechou e a cidade se fez em trovoadas. Era uma tarde escura, cujo cenário se desenhava de dores e lágrimas. Aquele amor foi simbolizado pelo silêncio em sua totalidade. Já não se ouvia sobre o amor e tampouco sobre a vida.
O silêncio seguiu para a perda do meu maior amor. A princípio a trilha sonora se fez em lágrimas, depois em silêncio. O amor nunca me doeu tanto! Pela primeira vez entendi o tal dito "morrer de amor" e desejei, pela primeira vez, nunca ter amado e nem recebido amor.
Lembro de ter chorado num banco qualquer, sob a chuva de janeiro, te pedindo para voltar. Aquele silêncio me rasgava a alma e, num movimento impetuoso, tentei cavar de fora para dentro o vazio que se abria em mim. Por vezes cedi meu corpo ao chão e desaguei. Mas nada florescia. Já não havia mais música e nem primavera em mim.
Em algum momento "Aonde quer que eu vá" ocupou parte daquele silêncio. Inúmeras vezes pedi que voltasse para mim ou que ao menos me encontrasse em sonhos. As vezes dava certo, mas o que ficava, no fim, sempre foi a saudade.
Algumas vezes me olhei no espelho e a vi em meus olhos, em meu corpo, em minha pele. As vezes sinto seu cheiro, ouço sua voz, sinto seu toque quando a brisa toca meu rosto. Ainda hoje, "Aonde quer que eu vá, te levo comigo".
Dos amores às perdas, eis a chuva, as músicas, as flores, os aromas, os sabores, os olhares. As efêmeras palavras que se perdem ao vento.
O silêncio.
As saudades.