E... Ponto Final
Um desaparecimento mirabolante que já perdura por longas duas décadas. No epicentro do mistério desponta um escritor, ninguém menos que Sebastian Trapp, colecionador de inúmeros Best-sellers em sua portentosa carreira. Mas, o maior mistério de sua vida nunca fora esboçado em seus livros e fica muito próximo de vir à tona quando — após descobrir ter pouco tempo de vida — contrata a escritora Nicky Hunter para ajudá-lo a compor um livro de memórias. Alguns segredos estão fadados a serem desencavados, sem importar quanto tempo transcorreram... Portanto, vem comigo: vamos juntos até alcançar o Ponto Final.
O livro escrito por A.J. Finn é um thriller psicológico intenso, envolvente, referendando uma família carregada de estranhas controvérsias. Para erigir essa realidade, hora perturbante e em alguns momentos dotada de uma atmosfera claustrofóbica, angustiante, capaz até de suscitar tensão no espetador, o autor não poupou criatividade, colocada à serviço de um texto intenso e virulento, como se estivesse defenestrado alguns demônios interiores. Quem sabe, não é?
Se “Ponto Final” foi mesmo escrito com a força do ódio, A.J. Finn o fez metodicamente, deixando seu lado mais calculista sobressair sobre a emoção. Tanto que os personagens, no âmbito da trama, são bem delineados a ponto de nenhum deles ser exatamente digno de confiança. Na verdade, todos despertam no leitor algum tipo de desconfiança, receio, como se ocultassem um “podre”, algum sórdido segredo trancado sobre todas as chaves possíveis.
Embora seja um tanto forçado pôr em xeque a qualidade literária impressa na narrativa, presente a ponto de até saltar aos olhos, não significa atestar que tudo são flores. A obra claramente poderia ter sido um pouco encurtada em detrimento de uma maior precisão textual. Isso porque o romance, em alguns momentos, acaba por se revelar um tanto amolante, esbanjando capacidade de irritar um pouco, principalmente os leitores mais afoitos. Afinal, durante mais da metade, entre 60% e 70% do livro, o desenrolar da história é demasiadamente lento.
No entanto, particularmente, prefiro me concentrar naquilo que “Ponto Final” tem de súpero. A.J. Finn empresta a trama, psicológica e cravejada de enigmas, talvez, uma das mais bem articuladas reviravoltas no âmbito da literatura contemporânea. Não deixando dúvida alguma quanto ao seu poder de imprevisibilidade, a principal cartada para arrancar inúmeros sobressaltos dos adeptos do gênero, entrelaçando os laços para alcançar um desfecho abruptamente surreal (no melhor sentido), sem abrir mão da acentuada dose de inventabilidade.