A essência da queda
Que mundo é este, em que a razão sempre foi considerada soberana, mas quem realmente dita o curso é o coração? Orgulhamo-nos de nossas conquistas, mas quantas delas, de fato, cumpriram suas promessas?
Medito sobre o amargor desta reflexão: tudo o que se fez, ao cabo, possui verdadeiro valor? Pois a linha de chegada não guarda prêmio algum, já que o verdadeiro tesouro não reside ao fim do arco-íris, mas na jornada que nele nos conduz. Ao alcançar o término, encontra-se um destino irrevogável, traçado desde o princípio; lá repousa o abismo, e tudo que outrora veio, um dia há de partir.
Assim, pergunto: de que serve tudo isso? Qual o propósito do esforço, se tudo findará de igual maneira? Se o desfecho é previsível e imutável, que resta ao ser humano? No entanto, compreenda: aquele que chega ao fim não é o mesmo que um dia iniciou a travessia. É verdade que o destino final é comum a todos, mas cada alma que sucumbe ao abismo leva consigo fragmentos únicos de sua história e de sua essência.
A queda é inevitável, mas resta uma escolha inalienável: decidir como deseja cair. Se, em seu ocaso, a essência que carrega consigo lhe apraz; se, ao longo da jornada, viveu como quis e foi quem aspirava ser, então cumpriu o maior dos propósitos. E, mesmo que não tenha sido quem desejava, ainda assim foi algo que ninguém mais jamais poderia ser.