A última lição
Nem sempre (quase nunca, na verdade) meus textos refletem algo pelo qual estou passando ou sentindo no momento: escrevo desde prosa poética sobre amor, sem estar apaixonado, até contos de terror e romances policiais cheios de violência e morte - quando não sou mais capaz de matar uma mosca. Minha escrita é muito intuitiva e ultimamente tem voltado a fluir, geralmente despertada por um jogo de palavras que faço em minha mente ao ouvir ou ler algo em algum lugar.
Contrariando tudo o que disse acima e aproveitando a data de hoje, que de especial não tem nada (fazem exatamente onze anos do falecimento do meu pai), resolvi compartilhar o que considero ser a última "lição" que ele me passou (ou a primeira "em morte").
Em seus últimos anos de vida, meu véio tomou gosto por viagens: fazia duas ou três por ano, e em três ou quatro ocasiões o destino foi a Argentina, de onde ele sempre voltava encantado com os ternos que via por lá, mas não comprava. "Na próxima eu compro", dizia.
Em 2012 ou 2013 (não me recordo ao certo), empolgado pelo casamento do meu irmão (marcado para maio de 2014) ele finalmente comprou o terno, do jeitinho que queria. Pretendia ir casar o filho caçula com ele, mas, infelizmente, alguns meses antes, seu coração parou de bater e ele foi sepultado no dia seguinte com a tão desejada veste.
Quem chegou até aqui pode tirar a lição que quiser (ou não) dessa história real. Longe de mim querer induzir alguém a viver cada dia como se fosse o último (até porque, com essa mentalidade, se você não morre logo pode acabar arranjando pra cabeça), mas também não precisa se privar de tudo.
Não acredite quando disserem que não levamos nada para o túmulo: em alguns casos, levamos sim. E a grande ironia está justamente aí.