O cacto não fala mas eu é que o pico
Ela disse-me que adorava flores,todo o tipo delas,das mais verdes às mais coloridas,e das mais coloridas às mais tristes.
Deixem-me que vos diga,quando se trata de flores,herdei o gosto da minha mãe;nenhum.
Falta-me capacidade(ou talvez só vontade) para perceber o afeto que as pessoas têm,por algo que está totalmente impossibilitado de efetuar quaisquer tipos de reciprocidade.
Uma planta,é como uma moeda,ou está virada com a face da cara para cima,ou com a coroa,logo,uma planta ou vive ou limita-se a deixar de viver, e isso irrita-me.Acordar todos os dias,e independentemente das ocasiões ou estados de espírito,regar a puta da plantinha! Porque se ela não for regada,não se vai regar sozinha né?
Mas é preferível serem elas a faze-lo,assim ao menos não reclamam das próprias “incapacidades”.
No entanto,todos já fizemos algo contraditório por amor,então,sob quaisquer expectativas que eu tivesse,decidi adotar um planta.
O que foi? Acharam mesmo que ia gastar dinheiro num ser vivo que nem me quer?
Não quero cá ninguém preso contra a minha vontade!
Desse modo,sorrateiramente,como quem não quer a coisa,esgueirei-me no pátio interno e tomei para minha posse,de forma voluntária,um cacto.
Ah sim, porque se o antipático não faz o obséquio de falar pra mim,também não vai ter direito á opinião,ele vai… e vai! Só que para ser mais romantizado,prefiro auto sabotar-me e fazer-me crer que ele se voluntariou para esta causa.
O plano era simples, já que a fofa gosta muito de plantas,eu ia manter o cacto vivo,até ao seu aniversário.
Acontece que, a vida se fosse justa,continuaria a ser injusta,dependendo do prisma de quem olha para ela,e no meu caso,o prisma foi bastante negativo.
Aparentemente, ela despertou um interesse repentino noutro alguém, o que não foi muito do meu agrado,e levou a “algum” descontentamento.
Chorei poucas vezes,e inundei o meu quarto muitas mais,o que por um lado até foi bom,pois se isso não acontecesse o cacto nem regado era.
Acontece que,sempre que chorava,encontrava-me no parapeito da janela,e matava a sede do desgraçado.
Meses se passaram,e chegou o aniversário dela….
Quando acordo de manhã,e olho para o parapeito,o cacto estava murcho.Não me perguntem como,mas murchou!
O tempo era insuficiente para comprar outra prenda,por isso fui á festa,entreguei a prenda e virei costas para me ir embora.
Estava prestes a sair pela porta,quando ela grita:
-”Rodrigo!”.
Olhei de lado para trás e não ari a boca.
-Rodrigo,o cacto murchou!-disse a rapariga.
Sem gastar muito o meu latim,olhei para os olhos dela e respondi:
-Estamos os dois,o cacto murcho por ter água a mais,e eu por ter água a menos.
E saí pela porta.