Capitalismo e Socialismo
É moda falar no "capitalismo selvagem", expressão que a gente encontra a toda hora.
Existe, de fato, quando o capitalismo não se baseia no trabalho e na produção, mas na especulação financeira, que faz o dinheiro gerar dinheiro, ou seja, do nada.
Lembro de uma HQ do Tio Patinhas, que li no milênio passado (sic) e que foi criada por Carl Barks (seu traço era excepcional e inconfundível). O protagonista estava angustiado porque não tinha mais espaço no seu depósito para guardar os sacos de dinheiro que não paravam de chegar.
Um adendo: primeiro, ele nem pensava em ajudar os pobres com tal dinheirama. Segundo, essa história da caixa forte do Patinhas, do tamanho de um arranha céu, deve ter sido um expediente do Barks para as crianças entenderem melhor. Nenhum milionário ou quaquimilionario iria guardar dinheiro vivo em tal quantidade, deixaria no banco como valor contábil e rendendo.
Bem, nessa altura o pobretão do Donald mete sua colher para ganhar alguma recompensa. Ele convence o tio a sair pelo país junto com ele, gastando a rodo o dinheiro excedente. A contragosto o Tio Patinhas cede e lá vão eles de carro, levando os sacos de dinheiro num reboque (na vida real seriam assaltados).
Decidido a aproveitar essa chance de vida boa o Donald leva o infeliz ricaço pelo país agora, levando-o aos melhores hotéis e restaurantes. Num deles Patinhas chega a dizer: "Que preços! O dono desse restaurante devia ser preso como ladrão!" A tais observações Donald respondia lembrando ao seu tio que era para isso mesmo que estavam viajando: para gastar aquele dinheiro todo o mais rápido possível.
Mesmo sofrendo o velho pato submeteu-se a tudo, porque não tinha mais onde guardar aquele dinheiro que estava se esparramando no próprio escritório. Na vida real as notas e até as moedas do cofre forte se estragariam, mas deixa isso pra lá.
Donald obrigou-o até a trocar de carro uma porção de vezes para apressar a queima do dinheiro. Só não trocaram o reboque porque teriam que transferir a dinheirama. Gastaram em tudo o que foi possível, até na reserva dos índios.
Finalmente, com o reboque esvaziado após meses, retornaram a Patópolis. Mas o alívio do Tio Patinhas durou pouco: mal chegou no escritório, seus empregados já estavam trazendo novos sacos e mais sacos de dinheiro.
Espantado, Patinhas quis saber o que era aquilo. Cansado de carregar sacos de dinheiro, um dos empregados explicou: durante meses um milionário excêntrico (sic) viajara pelo país inteiro gastando fortunas em hotéis, restaurantes, concessionárias de automóveis e tudo quanto era loja de objetos caros e até na reserva de índios onde funcionava uma franquia do Patinhas.
Era tudo dele e todo o dinheiro gasto voltou para ele!
Aí temos um exemplo claro de capitalismo selvagem.
A história terminava com o Tio Patinhas, bengala em riste, correndo atrás do infeliz do Pato Donald.
Agora leia até o fim: se existe o capitalismo selvagem, será que não existe o socialismo selvagem? É claro que existe, inclusive provocando genocídios.
Procurem se informar sobre Stalin, Pol Pot, Mao Tse Tung, Enver Osxcha, Nicolau Ceausescu, Brejnev e outros celerados. Ou atualmente esse tal de Kim Jong-un da Coreia do Norte.
O tal de Pol Pot era tão cruel com seu Khmer Vermelho que, após derrotar o governo do General Lon Nol e estabelecer regime comunista no Camboja, executou um gigantesco expurgo que chegou a diminuir consideravelmente a população do país, e acabou sendo detido por ter provocado incidentes de fronteira com o Vietnam, que havia se unificado sob governo também comunista. E foi a primeira vez em que dois regimes comunistas guerrearam entre si, de tal modo Pol Pot e seus "khmers" eram socialistas selvagens. Derrotado, o monstro ficou preso pelo resto da vida.
Reflitam nesses casos e, quando quiserem criticar o capitalismo selvagem, lembrem que também existe o socialismo selvagem.
Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2024.
imagens do google (Tio Patinhas e cena do Camboja)