O VIVER: UMA GRANDE VIAGEM
Suponhamos que você venha a fazer uma longa viagem, partindo de Porto a Alegre com destino a Manaus. E cujo meio de transporte seria, na verdade, um ônibus pouco confortável. Bom, só de imaginar, já dá até vontade de desistir, não?
Contudo, já estava decidido, pelo que você iria enfrentar essa dura travessia. E então você dispõe suas malas no bagageiro do veículo, toma a fila do devido embarque, apresentando sua passagem ao motorista e, por fim, se acomodando em sua poltrona que, diga-se de passagem, a ficar entre o corredor e a de quem irá ao do lado da janela.
E então, como todas as viagens, “a sorte está lançada”: Quem será a sua companhia durante até o final. Como se portará junto a ti? Oh! Quem dera se soubéssemos as pessoas que teriam comprado as passagens cada qual de nosso lado! Tratando-se assim d'um verdadeiro “tiro no escuro”.
E eis que, finalmente, o ônibus dá a partida. Contudo, infelizmente, não foi o seu dia de sorte, que pena! No que o dito itinerário passou a ser uma verdadeira “Via Crucis”. Sim, uma via dolorosa, em que do lado do corredor estava um crente fundamentalista a falar continuamente e sem pausa de religião, moralismos de condutas, louvores de hinários, e o que era pior, a desejar convertê-lo para o “rebanho do Senhor”. E de seu outro lado, próximo à janela, estava nada mais nada menos que um neurótico hipocondríaco e extremamente derrotista, a conversar somente coisas do tipo: Doenças, mortes, assaltos, violências, noticiários a referir-se de corrupção política, verdadeiros assuntos "batidos", tragédias, desastres, homicídios, assassinatos, suicídios e tudo o que viesse a lembrar má sorte e lamentações. E, para completar, à sua frente, encontrara-se alguém a ter os maiores problemas do mundo, as maiores dificuldades da vida, um miserável "filho de Jó". Ou seja, naquela hora você se sentia como um verdadeiro Jesus Cristo crucificado entre dois ladrões, além de ser espetado por um guarda romano com as lanças de seus maiores negativismos.
E nesta maldita hora você faz "aquela pergunta": - O que eu faço?
A viagem era, de conhecimento prévio, longa, onde, em função da companhia, se tornaria ainda um maldito drama, tamanha a adversidade a que você se achava na devida situação.
E mais uma vez se perguntava: - O que se fazer, então (pelo menos para tentar mudar ou amenizar o fado)?
Bem, apresento aqui algumas opções:
* Caso tivesse sorte, você poderia mudar de poltrona;
* Ou colocar um fone de ouvido e seguir a jornada escutando uma boa música, ou qualquer outra coisa que não estivesse ligado a negativismos ou religião, igrejas, que na verdade é “um saco”!;
* Poderia também (e aqui seria um verdadeiro ato de coragem, quem sabe, a desafiar os seus princípios de educação), pedir para que eles se calassem;
* Como também poderia solicitar para descer do ônibus e tomar um outro, ou então dar meia volta para casa, a exemplo do filho pródigo;
* Ou, numa heroica alternativa, quiçá, tolerar e suportar com uma paciência do tamanho do Monte Everest, os seus “digníssimos companheiros de estrada”, até por fim chegar a Manaus. No que, certamente você iria comemorar: - “Saí do inferno. Paguei todos os meus pecados nesta e nas outras vidas”!
E então, o que você faria? Como se procederia?
Pois é! Eis a vida: Uma grande viagem! Tão fastidiosa em seu comprido e difícil percurso. E, com certeza, bem pior do que sair de Porto Alegre em direção a Manaus de ônibus (estando mal acompanhado). E não é assim praticamente em todo o tempo e espaço para todos? Seja em casa, no trabalho, ou no trânsito, nas ruas, e nas rotinas do dia a dia? Na verdade, analisando bem, a partir de um tempo de nossas vidas, é raro encontrar um tempo de uma duradoura paz.
Resumindo: O viver a ser, portanto, um verdadeiro exercício de paciência, e que não nos dá o direito de “desistir”. Ah! Desistir de viver? Inadmissível, nem pensar! Mesmo por que seria aqui sinônimo de “desesperar”.
A vida e o viver: Uma grande viagem! Oh! Quem dera se fosse como a “ponte aérea entre o Rio de Janeiro e São Paulo”! Porém, se rápida assim fosse, no que curto seria o seu prazo, fico-me a questionar se teria alguma graça!
“Para viajar basta existir” (Fernando Pessoa)
21 de novembro de 2024
IMAGENS: FOTOS REGISTRADAS POR CELULAR