ALMA NIILISTA

 

“Eu medito sem palavras e sobre o nada”

(Clarice Lispector)

 

Seria real o que toca os sentidos ou tão somente "é" vazio?

Que significado tem, deveras, o que vemos?

Teria mesmo importância ou consideração (pelo que tanto damos)?

 

Trago o mundo inteiro em meus olhos (vazios)

Então, não trago ... nada?!

Eis aqui um “koan” da mística zen que poucos entendem

 

Creia alguém qu’eu estaria a negar a existência?

Oh, não! O que é, ao meu entender, nunca deixa de ser

E deste modo não pode “deixar d’existir”

Pelo que se deixou é porque nunca foi

 

Abandonar a existência (des-existir)?

Um grande absurdo!

 

Não "ter" nenhum atributo seria o mesmo que não "ser" nada?

Mas, o que é ... "o nada"?

E o que é tudo (ou ... "o "udo")?

Como se confundem o tudo e o nada!

 

Antes de tudo, o que é a vida?

Ou, antes de tudo, o que "era" (antes) a vida?

Com certeza ... nada

Pela lógica de se concluir que antes de tudo nada se havia

Nada existia ...

 

E o que existe ... agora?

 

Não, não chega a ser improvável

Se destarte fosse, obviamente possível não seria

Todavia, eis qu’eu muito estranho, às vezes

Embora não me assombre mais

Ou, pelo menos, não tanto

 

Se a vida é tocada e sentida, eu assim creio (é claro)

Contudo, morta ... jamais (nem a vida nem nada dela)

 

E o que existe ou "parece" existir na vida é mesmo verdadeiro

... ou ainda não saímos da caverna de Platão?

 

Pergunto aqui d'outra forma:

Será que os encontros são reais?

Será que os amores realmente acontecem?

Será que as dores de verdad’existem?

Será que a morte é o fim de tudo?

Ou será qu'ela - a morte - não é verdadeira nem, portanto, real?

 

Se nada é real, por que nos afetamos ... por tudo?

Por que damos tanta importância?

Por que valorizamos?

Por qu'elevamos coisas?

Por qu'enaltecemos pessoas?

Por que vivenciamos amores (afetos)?

Por que padecemos dores (sofrimentos)?

 

Não estaríamos nos martirizando por nada?

Não estamos nos afligindo pelo que não merece?

Não estamos nos atormentando à toa?

 

E quem de fato tudo aqui prova: o corpo ou a alma?

Morto e extinto o corpo, sobrará [depois] o quê?

Pensamentos? ... Sentimentos? ... Memórias? ... Sonhos? ...

Afinal, as sensações deram o fora

As visões, ... os sabores, ... os toques, os odores, ... os sons

Estariam n'algum lugar as lembranças do que a vida provou?

Sim, as saudades e, talvez, até os desejos e os anseios

(do que se desejou, porém, não teve)?

Sei lá!

Definitivamente não sei ... de nada!

 

 

Esforços em vão?

Já que nad’aqui é verdadeiro ou real?

Mas também não é "surreal"

 

Fatos e acontecimentos a se pintarem n’uma dinâmica tela

Embora não seja uma “natureza morta”

 

O que é “explicável” nesta vida?

O que é permanente para que seja desejado (ou mesmo evitado)?

Quem pod’entender tudo o que há?

Ou, na verdade, nada existe que não seja ... “mental”?

Sim, nascido ou criado pela mente

(Como é dito nos versos do “Dhammapada”:

“Todas as coisas são precedidas pela mente, guiadas pela mente

... e criadas pela mente” (Canto I, verso I)

 

Então, tudo aqui não passa d’um palco ou d'um teatral cenário?

Nas horas, minutos e segundos de seus atos!

Meu Deus! Por que sofremos tanto?

E por que tanto apego e medo "aqui"?

Sim, construímos casas para depois ... abandoná-las

Criamos relações para depois ... delas desfazermos

Ouro que s’enferruja

Diamantes a se tornarem cascalhos

Risos a se converterem em prantos

Abraços a se mudarem em tapas

O calor das horas d’alvorada a se tornar n’um gélido ocaso

E o que era sensível e animado eis agora indiferente e estático

 

Ah! Por que é tão difícil entender (e mais ainda) aceitar as

... configurações do tempo?

É verdade: tudo muda ... o tempo todo

 

Mas, se a vida é como um filme

Em que nada é real e tudo fictício...

Então, somos apenas como os atores e atrizes [da saga do mundo]

Onde n’uma estória de amor, ninguém ama de verdade

Os beijos são somente "técnicos"

Justamente porque os amores são “temporais” (e, por isso, passam)

Amores de mentira, então!

E nas cenas em que a alguém se mata, a morte também não é real

Já que ninguém morre de fato

E os gemidos de dores são pura simulação

 

Oh! Mas tudo “parece” tão real!

No entanto, os “mocinhos” não existem (nem os “vilões”)

Não existe nada, ... nada, ... nada

Nem na vida ... nem na morte

Já que não existe nem morte ... nem vida

 

Tudo falso!

Onde aqui tudo é nada ... e nada'aqui ... é tudo

Na verdade, nem existe ... o “aqui”

Como nem eu nem tu existimos (realmente)

 

 

Por que sofrer então ... (por nada)?

 

19 de novembro de 2024

 

IMAGENS: FOTOS REGISTRADAS POR CELULAR

 

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FORMATAÇÃO SEM AS ILUSTRAÇÕES

 

ALMA NIILISTA

 

“Eu medito sem palavras e sobre o nada”

(Clarice Lispector)

 

Seria real o que toca os sentidos ou tão somente "é" vazio?

Que significado tem, deveras, o que vemos?

Teria mesmo importância ou consideração (pelo que tanto damos)?

 

Trago o mundo inteiro em meus olhos (vazios)

Então, não trago ... nada?!

Eis aqui um “koan” da mística zen que poucos entendem

 

Creia alguém qu’eu estaria a negar a existência?

Oh, não! O que é, ao meu entender, nunca deixa de ser

E deste modo não pode “deixar d’existir”

Pelo que se deixou é porque nunca foi

 

Abandonar a existência (des-existir)?

Um grande absurdo!

 

Não "ter" nenhum atributo seria o mesmo que não "ser" nada?

Mas, o que é ... "o nada"?

E o que é tudo (ou ... "o "udo")?

Como se confundem o tudo e o nada!

 

Antes de tudo, o que é a vida?

Ou, antes de tudo, o que "era" (antes) a vida?

Com certeza ... nada

Pela lógica de se concluir que antes de tudo nada se havia

Nada existia ...

 

E o que existe ... agora?

 

Não, não chega a ser improvável

Se destarte fosse, obviamente possível não seria

Todavia, eis qu’eu muito estranho, às vezes

Embora não me assombre mais

Ou, pelo menos, não tanto

 

Se a vida é tocada e sentida, eu assim creio (é claro)

Contudo, morta ... jamais (nem a vida nem nada dela)

 

E o que existe ou "parece" existir na vida é mesmo verdadeiro

... ou ainda não saímos da caverna de Platão?

 

Pergunto aqui d'outra forma:

Será que os encontros são reais?

Será que os amores realmente acontecem?

Será que as dores de verdad’existem?

Será que a morte é o fim de tudo?

Ou será qu'ela - a morte - não é verdadeira nem, portanto, real?

 

Se nada é real, por que nos afetamos ... por tudo?

Por que damos tanta importância?

Por que valorizamos?

Por qu'elevamos coisas?

Por qu'enaltecemos pessoas?

Por que vivenciamos amores (afetos)?

Por que padecemos dores (sofrimentos)?

 

Não estaríamos nos martirizando por nada?

Não estamos nos afligindo pelo que não merece?

Não estamos nos atormentando à toa?

 

E quem de fato tudo aqui prova: o corpo ou a alma?

Morto e extinto o corpo, sobrará [depois] o quê?

Pensamentos? ... Sentimentos? ... Memórias? ... Sonhos? ...

Afinal, as sensações deram o fora

As visões, ... os sabores, ... os toques, os odores, ... os sons

Estariam n'algum lugar as lembranças do que a vida provou?

Sim, as saudades e, talvez, até os desejos e os anseios

(do que se desejou, porém, não teve)?

Sei lá!

Definitivamente não sei ... de nada!

 

Esforços em vão?

Já que nad’aqui é verdadeiro ou real?

Mas também não é "surreal"

 

Fatos e acontecimentos a se pintarem n’uma dinâmica tela

Embora não seja uma “natureza morta”

 

O que é “explicável” nesta vida?

O que é permanente para que seja desejado (ou mesmo evitado)?

Quem pod’entender tudo o que há?

Ou, na verdade, nada existe que não seja ... “mental”?

Sim, nascido ou criado pela mente

(Como é dito nos versos do “Dhammapada”:

“Todas as coisas são precedidas pela mente, guiadas pela mente

... e criadas pela mente” (Canto I, verso I)

 

Então, tudo aqui não passa d’um palco ou d'um teatral cenário?

Nas horas, minutos e segundos de seus atos!

Meu Deus! Por que sofremos tanto?

E por que tanto apego e medo "aqui"?

Sim, construímos casas para depois ... abandoná-las

Criamos relações para depois ... delas desfazermos

Ouro que s’enferruja

Diamantes a se tornarem cascalhos

Risos a se converterem em prantos

Abraços a se mudarem em tapas

O calor das horas d’alvorada a se tornar n’um gélido ocaso

E o que era sensível e animado eis agora indiferente e estático

 

Ah! Por que é tão difícil entender (e mais ainda) aceitar as

... configurações do tempo?

É verdade: tudo muda ... o tempo todo

 

Mas, se a vida é como um filme

Em que nada é real e tudo fictício...

Então, somos apenas como os atores e atrizes [da saga do mundo]

Onde n’uma estória de amor, ninguém ama de verdade

Os beijos são somente "técnicos"

Justamente porque os amores são “temporais” (e, por isso, passam)

Amores de mentira, então!

E nas cenas em que a alguém se mata, a morte também não é real

Já que ninguém morre de fato

E os gemidos de dores são pura simulação

 

Oh! Mas tudo “parece” tão real!

No entanto, os “mocinhos” não existem (nem os “vilões”)

Não existe nada, ... nada, ... nada

Nem na vida ... nem na morte

Já que não existe nem morte ... nem vida

 

Tudo falso!

Onde aqui tudo é nada ... e nada'aqui ... é tudo

Na verdade, nem existe ... o “aqui”

Como nem eu nem tu existimos (realmente)

 

Por que sofrer então ... (por nada)?

 

19 de novembro de 2024

Estevan Hovadick
Enviado por Estevan Hovadick em 19/11/2024
Código do texto: T8200083
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