A vida que me agrada
A vida nos reserva surpresas. Já conversamos sobre isso por aqui, em muitos momentos. Mas o fato é que a vida nos reserva as mais inimagináveis surpresas nos mais improváveis dos tempos. E essas surpresas nos fazem rever nossos posicionamentos e nossas escolhas, fazem-nos refletir sobre a forma como temos passado por esse mundo. Às vezes dá tempo, podemos corrigir nosso passos tortuosos. Às vezes não dá, teremos que conviver com a dor do arrependimento. Algumas destas surpresas nos fazem perceber o quanto desperdiçamos a vida com coisas bobas e fúteis, outras destas surpresas nos fazem questionar se valeu mesmo a pena termos nos dedicado tanto a determinadas áreas de nossas vidas, como a profissional, enquanto negligenciamos outras, como a da família. Não tem jeito. Vez ou outra somos confrontados por situações que nos fazem questionar e indagar se a vida que temos vivido até aqui é realmente a vida que gostaríamos de descrever quando chegássemos ao ponto final. Às vezes a resposta é triste. Às vezes é feliz. Para além disso, às vezes não precisamos esperar pelas inesperadas surpresas da vida para que, então, tomemos consciência daquilo que nos importa.
É importante que estejamos atentos e conscientes. É importante que estejamos conectados a nós e ao mundo que nos cerca. É importante que jamais percamos de vista qual é o legado que queremos deixar, qual a lembrança que queremos levar dessa vida quando ela for uma impossibilidade. Pois isso nos ajudará a fazermos escolhas que nos aproximem de nosso verdadeiro objetivo.
E decidi trazer esse pensamento hoje porque tenho tido contato com muitos sofrimentos humanos. E, dentre esses sofrimentos, o do arrependimento por ter visto a vida passar sem tê-la de fato vivido. É quando o casamento deixa de ser uma realidade que, então, muitos se dão conta da importância que ele possuía. É quando os pais já não estão por aqui que, então, muitos confessam que seu amor por eles era imenso, embora nunca declarado. É quando os filhos já estão crescidos e vivendo suas vidas que, então, muitos finalmente compreendem que não valeu a pena ter sido tão rígido e inflexível, pois hoje, ao invés de poderem compartilhar daquilo que está sendo construído, precisam se contentar em apenas observar já que suas ações os tornaram indesejáveis e criaram distanciamentos insuperáveis. Arrependimentos amargos e dolorosos. Arrependimentos que só existem porque ninguém se questionou quando à vida que gostaria de ter, o casamento que gostaria de viver, o filho que adoraria ser e como gostaria de ser lembrado enquanto pai ou mãe... Questionamentos desnecessários? Acredito que não. Pois é exatamente por não nos conscientizarmos quanto a vida que gostaríamos de viver que tantos de nós vivem a vida que, limitadamente, deu para viver.
Às vezes da tempo de corrigir nossos caminhos equivocados. No entanto, é perigoso contar com essa sorte. Isso porque a vida é realmente imprevisível. Contudo, é possível fazermos escolhas que estejam congruentes com as nossas aspirações nessa vida. Se quero um casamento feliz, como posso construí-lo? Se quero que meus pais saibam o quanto são amados por mim, como posso expressar tal verdade? Se quero participar da vida dos meus filhos até o meu último dia de vida, podendo conhecer os meus netos e, quem sabe, os meus bisnetos, como posso me tornar querido em suas histórias? É pautado em questionamentos assim que posso ter a chance de construir a vida que me agrada. Uma vida que não acontecerá espontaneamente. Não é assim que acontece. Mas uma vida que construirei dia a dia, incansavelmente, constantemente, até que o meu livro chegue ao fim para que seja apreciado pela eternidade.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)